tag:blogger.com,1999:blog-45534053527283299182024-03-05T18:41:47.766-08:00Verso do AvessoEdiltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.comBlogger19125tag:blogger.com,1999:blog-4553405352728329918.post-38797322011967737282011-04-15T05:23:00.000-07:002011-04-15T05:23:08.677-07:00Adéu, Barcelona!<div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="295" src="http://www.youtube.com/embed/zEpo4gExLT8?fs=1" width="480"></iframe></div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4553405352728329918.post-12663918730423840612011-04-13T19:41:00.000-07:002011-04-13T19:42:00.091-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://versodoavesso.blogspot.com/2011/04/mike-acorda-abre-os-olhos-se-olha-no.html#more"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJj2sCQ-AhVAGoZkAgNVNYbs7OMMvAn4MdP99ndxvysVBY9NB6TD3i6X6R8-s7Spc1iRurOaN0lOHZzs9CQgPmRbgy5w5QaxRZ2wuMKRuv4DWIeuM9cmf9oiGite4ouWXd3N_nvewesatA/s1600/todosossonhos.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><a name='more'></a><div style="text-align: justify;"><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Mike acorda, abre os olhos, se olha no espelho do guarda roupas e não vê seu corpo. A confusão de cobertas, travesseiros e ele em sua cama, lhe permitem enxergar apenas sua cabeça. Era como se todo o seu tronco e membros estivessem sumidos.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Sorri um sorriso de lamento e autodesistência. A essa altura, era sua verdadeira imagem, a que todos enxergam e que se tornou latente mesmo diante de seus esforços para escondê-la, que lhe encarara.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">Gastou quantidade considerável de tempo, para escovar os dentes. Queria limpar sua boca, queria que fosse suja. Enfiar a escova pelas veias; canais de imundície que transportariam o combustível da maldade. Escovar os cantos do cérebro, que bendito seria, se fosse um depósito da escória que ele não possuía. E quem sabe num gargarejo cuspir toda substância na pia. Não havia, e se houvesse sujeira, estaria depositada na falta de uso, nas estantes empoeiradas da inércia. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Mike era um vácuo. Nunca se sentiu preenchido de vida, não se lembrava de qualquer empolgação escalar alguma vértebra de sua espinha, não possuía arrependimentos, nenhuma de suas ações já lhe custou conseqüências que despertassem algum sentimento maior que resignação.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Hoje, especialmente, decidiu tomar seu café da manhã fora. Ao abrir a porta de casa percebeu o sol forte no rosto, não por acaso, fez sombra nos olhos com uma das mãos e por um instante avistou a vizinhança. Mães levavam as mochilas de seus filhos até o carro. Um casal conversava sobre o que iriam fazer a noite. Uma vizinha fazia Cooper enquanto levava o cachorro para passear. Sr. Arnaldo, o dono da padaria no final da rua, colocava as frutas frescas na calçada para a venda.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Pensou, “De hoje não passo.”</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">A um passo da escada do alpendre de casa, resolveu despender a mesma quantidade de energia que usou para dar qualquer passo na sua existência; nenhuma. Sendo assim, mãos brotaram do solo e dos degraus da escada. O seguraram com todo cuidado (ou Mike protestava) e foram o levando até seu destino; a padaria. Entre as mãos, que eram muitas, várias lhe era familiares: as de sua mãe e pai, suas professoras, seus treinadores dos esportes que era obrigado a praticar, seus amigos, suas poucas e rápidas namoradas e seus patrões. Também havia algumas das quais não conseguia se recordar. Percebeu que o acaso e a sorte já cruzaram seu caminho mais do que gostaria.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">O deixaram suavemente na cadeira de madeira que fazia jogo com a mesa ao lado da grande janela que tinha como vista a rua de seu bairro tranqüilo onde os vizinhos não se intrometiam na vida uns dos outros. Olhou para a rua e tentou adivinhar qual vizinho iria começar seu depoimento para a polícia com a frase “Ele sempre foi bem estranho, calado, não tinha muitos amigos; só podia dar nisso!”. Brincava de adivinhar o que as pessoas estavam pensando sobre ele, era uma das poucas coisas que o divertia, mas as conclusões à que chegava, quando estava certo de que sua adivinhação condizia com a realidade, não.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Bom dia Sr. Mike. O de sempre? – Disse Sr. Arnaldo, sem esperar resposta.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">De tão desconhecido, a vizinhança já sabia seu nome.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Bom dia Sr. Arnaldo. Hoje vou querer um pão de queijo, um pão passado na manteiga e um cappuccino duplo, por favor.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Não era o de sempre, Sr. Arnaldo estranhou. – Pra viagem?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Não, vou comer aqui mesmo. Mas gostaria de levar alguns sonhos, o senhor tem sonhos?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Certamente Sr. Mike, dos melhores e fresquinhos!</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">“<span style="font-size: small;">Eu não”, pensou Mike. – Ótimo, vou levar alguns.</span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Comeu, pagou e ao ser-lhe entregue o saco com os sonhos, reprimiu o esforço do Sr. Arnaldo em tentar estabelecer mais intimidade (já que hoje especialmente Mike estava mais sociável) fazendo perguntas sobre a nova vizinha, com um: – Não, não vi.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">No caminho para sua casa deduziu que a vizinha de quem Sr. Arnaldo falava era a moça do Cooper e do cachorro, ela estava voltando e provavelmente iria cruzar seu caminho. Em Mike restavam poucas energias sociais, já que para ele, a conversa na padaria foi um tremendo esforço. Portanto tratou de rejeitar a idéia na sua cabeça de oferecer um sonho a ela e se agarrou na chance de seu cachorro não gostar de uma aproximação e tentar mordê-lo. Assim estava feita sua desculpa auto-indulgente. Eram essas pequenas possibilidades de falhas que o ajudavam na tarefa de não se arrepender, afinal de contas, “Com um cachorrão daqueles é melhor eu me manter longe”, pensou.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Convenceu-se de que estava fazendo a coisa certa e diminuiu o passo quebrando a trajetória que o levaria, com certeza, ao feroz ataque de um Basset. A vizinha passou por ele com o cachorro ao longe e lhe apontou um sorriso amistoso. O cachorro não, porém não rosnou. Mike retribuiu o sorriso (agora sim estava exausto) e continuou seu caminho. Antes de ligar seu carro, estacionando na porta da garagem de sua casa, ainda pensou “Se não fosse esse maldito cão!”</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Mike não era feio nem bonito. Não era alto muito menos baixo. Tão pouco gordo e sequer magro. Um pesadelo de descrição para qualquer profissional da pericia policial. Um legítimo cidadão mediano, não fosse medíocre. As características que o definiam psicológica ou fisicamente se escondiam de qualquer um que tentasse se aproximar em algum desses aspectos. Então restava aos vizinhos caracterizá-lo com atributos externos a ele. Ninguém o conhecia tão bem para saber seus gostos, mas isso era compensado com a informação, já pública, do que ele não gostava: conversar.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Ligou o carro e partiu para o trabalho.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">No caminho ganhou a percepção aguçada de quem sabe que é seu último dia. Um bônus, que o deu algo pra sentir. Mas não saudade, nostalgia ou esperança. Convenceu-se sinceramente, como poucas vezes, de que não estava perdendo nada. Até para ele essa decisão era muito difícil. Suas desculpas auto-indulgentes não eram o suficiente para fazê-lo se lançar no desconhecido. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">A decisão não foi tomada hoje. Mike já se esforçou para participar de algo, tentou algumas religiões que, cumprindo bem seu papel social, o fizeram parte de um todo. Durante algum tempo, um grupo social o acolhia, se importava e lhe dava uma função, mas não um sentido. A fé não foi o suficiente para preencher a imensa lacuna de respostas das quais ele necessitava.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Durante o caminho avistou um moleque que pedia esmolas no sinal. Passou direto sem olhar para o garoto (mas não sem o vigiar). Parou o carro adiante, onde era permitido, e o chamou.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">O menino, empolgado com a possibilidade de ganhar uma gorda esmola, não pensou nas possibilidades de falhas. Se tivesse um rabo, chegaria balançando-o. Mike respirou fundo e se encheu de energia suficiente para disfarçar um sorriso de simpatia. Todo o esforço porque, afinal de contas, queria fazer o garoto se lembrar do que é importante na vida. Talvez o garoto lhe fizesse lembrar também. Pensou em dois argumentos para manter uma conversa, o primeiro deles era mais fácil.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Ei tio, tem uma esmola aí?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Tenho. Toma aqui é toda sua. – Mike entrega uma nota de 100 para o garoto.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Caralho Tio! Quer que eu dê uma limpeza interna?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Não obrigado, eu mesmo estou limpando-o. Está com fome?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Tô!</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">O segundo argumento lhe exigia um pouco mais de tato.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Eu tenho sonhos garoto, você tem?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Não tio, me dá um?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Dou, mas não estou falando desses sonhos aqui, estou falando dos desejos que tem na sua vida, você sonha com o que?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Mike entrega um sonho de padaria para o moleque.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Ah, com muita coisa, ser rico! Ter família. Sair dessa vida ruim. Sumir de vez.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">A ordem dos desejos do garoto trouxe em Mike um sentimento de identificação pelos tempos em que ele próprio tinha as mesmas prioridades. Porém tão logo Mike deu alguma importância à ele, o sentimento se desfez no ar quando o garoto o perguntou:</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"> - Você é rico?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"> - Não. - Disse Mike.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Também não era pobre. Mike tinha a mesma relevância para a economia de uma cidade, que costuma ter para as pessoas que o conhecem, nenhuma. Por outro lado, ficando tanto tempo em um emprego, sendo solteiro e gastando tão pouco com supérfluos não é de se estranhar que tenha uma vida confortável. Carro, dinheiro para viagens e casa de aluguel por escolha.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">- Porque quer sumir? </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Não gosto desse lugar, aqui tem muita gente que só pensa em se aproveitar ou fazer mal aos outros. Não entendo isso.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Qual seu nome garoto?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">- Já devia saber. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"> - Olha Rapaz, você ainda é muito novo pra desistir dos seus sonhos. Pedindo esmolas, vivendo à margem da sociedade, não vai conseguir alcançá-los. Cadê sua família? Você tem casa?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"> - Tá, olha muito obrigado pela ajuda, acho que tenho que ir agora, vou comprar um café.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">O garoto começa a se afastar deixando claro que não queria mais intimidade.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"> - Calma, não precisa se afastar, não vou te dar os sermões de sempre. Te dei uma nota de cem para que você escutasse o que eu tenho a dizer, pode ser?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Mike não queria que o garoto o deixasse aquilo estava ficando interessante. E em um desses momentos onde um arroubo brilhante de criatividade transpassa o cérebro tão rapidamente, que ao percebermos seu aparecimento, como um raio, há tempo suficiente apenas para se agarrar no todo. E apenas isso já nos faz perceber sua imensa importância, de tão lógica e coerente com o contexto que vivemos é essa idéia. Tão clara e concisa que apenas seu rastro já é o suficiente para nos enchermos de um orgulho soberbo; daqueles que só possuem os grandes de espírito e conscientes disso.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">- Hum... </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Olha garoto não tenho sonhos. Nenhum. Os que me fez lembrar que eram meus antes já não são mais. E a maioria deles já era para eu ter alcançado. Portanto vamos fazer o seguinte eu troco um dos que você tem, por esses que eu tenho.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">- Hahaha, quer um sonho de verdade por um sonho de padaria?! Nada feito! Meus sonhos de verdade valem muito mais! </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Você não vai usá-los e considere isso uma doação, você me dá um sonho e fica com a lembrança de cumprir os seus. Além do mais, me dando um sonho seu, não o perde ele apenas se duplica em mim, você ainda pode realizá-lo. Ok?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Hum, ok pode ser, vamos ver aqui qual sonho tenho pra você. Você viaja muito?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Não</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Hum, tem esposa, filhos, namorada?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Não</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Gosta de quê?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Olha garoto, assim não vai funcionar, são seus sonhos! Escolhe um e me dá, tá aqui o seu!</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Opa, dá aqui!</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Então?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- O garoto ainda mastigando diz: - Faz o seguinte, tenha um filho e se prepare para ele, dê muito carinho, amor e o eduque bem, faça ele feliz. Pronto.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">- Ok, obrigado. Olha tenho que ir trabalhar, a gente se vê. Mas considere esse sonho um símbolo de que você terá que cumprir o seu... Obrigado. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Apesar da aparente indiferença Mike ainda estava soberbo com a faísca criativa que se estalou no seu caminho. A conversa com o garoto e a idéia de compartilhar ou trocar sonhos foi repentina. E com os dados que já dispomos, qualquer um poderia supor que ele não fez disso parte de um planejamento anterior. A idéia e a ação vieram tão bruscamente que Mike não teve o tempo necessário para, além de entendê-la, decidir se é uma ideia estúpida ou não. Assim se livrou do garoto o mais rápido possível usando o que já era quase automático em sí, a indiferença.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Depois de deliberar consigo no caminho para o trabalho venceu a discussão com suas características predominantes, como a autoindulgência o pessimismo e a preguiça social, com uma única frase que, nesse dia, era a única chance de usá-la: “O que eu tenho a perder?”.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Mike estava dividido. O motivo era óbvio, uma empolgação juvenil com uma tarefa a cumprir o deixou excitado, querendo executá-la logo. Queria pessoas, trocar os sonhos reais delas com os únicos que ele possuía. Claro que essa sensação não veio somente pela diversão de cumprir sua decisão. A excitação que Mike sentia vinha em grande parte da natureza dessa tarefa e da possibilidade que ela tem de jogar alguma esperança sobre sua superfície insípida.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Já tinha decidido trabalhar, não mudou de idéia. Chegou à sede da empresa e foi para o 14º andar num prédio de 28. Conversa com poucos colegas de trabalho, somente aqueles que têm por Mike pena e paciência suficiente para tratá-lo como um pseudo depressivo. Pensavam que ele não tinha muito do que reclamar, um emprego honesto, uma vida estável e saúde. Para a grande maioria das pessoas isso era suficiente para, pelo menos, cimentar as bases da felicidade.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">O que ninguém percebia em Mike era que justamente esse vazio entre o básico que muita gente, inclusive ele, possuía e o máximo que ele poderia querer, o incomodava profundamente. A ponto de acabar com suas esperanças de alcançar. Para ele as pessoas que não possuíam o básico passam a vida lutando para alcançá-lo e quando alcançam podem tomar isso como felicidade. Também há aquelas pessoas que já possuem o básico e lutam para alcançar o máximo; empregando o mesmo raciocínio temos o mesmo resultado. E ainda existem aquelas que alcançam o básico e buscam o máximo, essas eram curtidas em ambição, perseverança e vida.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">E como é razoavelmente fácil de perceber, Mike era um vácuo.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">Talvez essa constatação viesse de seu inseparável sentimento de inadequação. Já não era fácil ser uma criança com nome estrangeiro e continuou difícil quando se juntaram a ele a certeza de não entender porque as pessoas agem da maneira que agem. Ele não sabia seguir as convenções sociais. Só aprendeu o suficiente para conseguir sobreviver, fugia de qualquer tarefa social mais complexa. Há 35 anos Mike era como um estrangeiro recém chegado, só se ouvia dele sentenças básicas e concisas da língua. Desconfiava de relações mais íntimas, e fazia questão de demonstrar isso.</span><span style="color: red;"><span style="font-size: small;"> </span></span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Era metade da manhã tempo suficiente para entendermos porque Mike já havia desistido de sua vida.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">- As vezes, não precisamos jogar fora, é só reiniciar. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">O computador de sua mesa costumava dar defeito. Hoje Mike achou que não tinha mais jeito, porém o técnico chegou em sua mesa á tempo de impedir que Mike jogasse o computador no lixo. Ele desistia fácil diante de obstáculos, e podemos fazer dessa, uma afirmação que generaliza quase todas as suas ações até hoje. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">Mas a frase do técnico fez Mike incluir mais uma opção para si mesmo. E se reiniciar fosse a solução? </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Não que, especialmente hoje, a vida de Mike se encheu de metáforas e despejou em cada conversa um sentido diferente para sua existência. Na verdade, era Mike que estava diferente, o bônus que ganhou no dia de hoje o fez altamente receptivo a novas percepções. Talvez os simbolismos nas conversas estivessem sempre lá e ele não percebeu. Também com tão poucos exemplos de uma boa conversa ele estava estatisticamente desfavorecido. Talvez seja esse o grande segredo, saber perceber as dicas que a vida lhe dá. Ou pode ser a vida lutando para não se extinguir de dentro dele, num impulso supremo de autopreservação, imprimindo um pouco mais de dimensões e escalas aos olhos, coração e mente de Mike.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">Mas Mike não era otimista. Chegou a conclusão que estava passando por um efeito comum a si mesmo: quando passa uma semana se decidindo a cortar o cabelo, no dia do corte, seu cabelo acorda bonito e vistoso, quase o fazendo mudar de idéia. Ele tratava a vida como sendo exterior a ele. Uma força que o manipula como bem entende. E para a diversão dela, sempre que tomava uma decisão, a brincalhona o fazia quase mudar de idéia, quase mudar o rumo do caminho que havia traçado, pouco tempo antes de segui-lo. Assim como o cabelo é mais bonito antes de cortar, a vida de Mike se tornou mais rica antes de terminar. Porém, como cometer suicídio todo dia? </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">Essa sensação ele só teria hoje e não era o suficiente para compensar os trinta e cinco anos restantes. Então o que ele poderia fazer é aproveitar o melhor disso até acabar, assim sendo, sua idéia se encaixava perfeitamente. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Você tem sonhos?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Tenho alguns ainda. Por quê?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Felipe não estranhou a pergunta por que, não o conhecia o suficiente para esperar algo. E isso traz para Mike a liberdade de não ser cobrado. Espera-se que um louco diga loucuras, que um comediante conte piadas e que um padre fale sobre Deus. Se um deles frustra nossas expectativas achamos estranho. O que constrói a anomalia é a sucessão da normalidade e vice e versa. Uma das poucas vantagens de Mike é ser uma tela em branco, ninguém sabe o que esperar. Não é estranho porque não é normal.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Também tenho alguns, quer fazer uma troca?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Como assim?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">Mike não usava drogas, apesar de ter usado durante pouco tempo, percebeu que elas encurtariam sua vida antes do que ele gostaria. Triste ironia hoje. Aprendia rápido, tinha um bom raciocínio lógico, que usava de maneira quase artesanal para tecer uma comunicação necessária e suficiente para ser entendido, não mais que isso. Explicou sobre o que estava fazendo com os sonhos. E depois de ouvir algumas opções do técnico como, criar algo novo e imensamente lucrativo na internet, vender quando chegar a 10 bilhões de dólares, pular nu na piscina da cobertura ao lado, e criar uma maquina que gela tão rápido quanto o microondas esquenta. Achou que inventar um sistema em rede de ajuda financeira á países pobres era o mais razoável deles. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">Mas o técnico não era tão discreto quanto Mike. E apesar de sabermos que não é aconselhável compartilhar de sua insipidez, o caso do técnico era que extrapolava o oposto. Com isso, todo o andar ficou sabendo que Mike estava trocando sonhos de padaria por sonhos reais. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Uma quantidade imensa de pessoas (cinco ou seis) se aglomerou na mesa de Mike para fazer a troca. Era quase hora do almoço, muitos só estavam com fome e alguns interessados no que Mike queria dizer. A única unanimidade da reunião extraordinária era a curiosidade.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Mike previu que ia ficar sem sonhos, portanto definiu e anunciou algumas novas regras. “Um minuto, por favor, vou receber todos os seus sonhos por escrito, e selecionar entre eles o mesmo número de sonhos que ainda me restam. O critério de seleção será... pessoal, e á medida que me decidir por alguns sonhos vou entregando os meus próprios. Quem se interessar pode deixar seus sonhos em minha mesa, nessa caixa. Vou sair para o almoço, bom apetite a todos.”</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Mike não tinha nada planejado para seu último almoço, contudo não achou isso o uma absurda falta de planejamento e ineficiência. Não há o que se lamentar, não tinha um prato favorito e tão pouco algum que achasse mais especial que o de sempre. Na verdade ele achava o de sempre o mais especial, pois o comia todo dia. Então, apenas para se livrar do peso que pode deixar sua alma presa á terra até pedir um prato diferente, pediu uma massa.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Não era o de sempre. Tentou achar algum simbolismo no fato de pedir massa. Desistiu. Sorriu. Mike estava de bom humor.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Voltou ao escritório para descobrir se alguém havia deixado algum sonho, sentou, colocou a caixinha no colo, olhou para os lados e todos estavam o olhando com olhos esperançosos, grandes e brilhantes. À principio, Mike ficou preocupado com a possibilidade de alguém ter deixado uma bombinha ou uma surpresa humilhante dentro da caixa, apesar de não estar mais no colégio. Tão logo não se preocupou mais com isso, abriu a caixa. E estava lotada de sonhos, muito mais que os seis ou sete anteriores.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">O trabalho de filtro, classificação e seleção tomou boa parte de seu horário da tarde. Já possuía bastante material para compor uma lista: matar o chefe, ganhar na loteria, paz mundial, fim da miséria, comprar um iate, helicóptero, avião, matar o vizinho, ser um astro do rock, cinema, TV, ser presidente da empresa, explodir o prédio da empresa. Na verdade Mike tinha material suficiente para classificá-los por temas. Matar pessoas famosas e superiores; ser outras pessoas, geralmente famosas; bens de consumo exagerados; causas nobres; mudanças estéticas, que incluem membros adicionais e etc. Essa lista possuía todos os sonhos descartados por Mike, obviamente. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">Do lado esquerdo colocou os sonhos que se classificaram segundo os seus critérios. Também definidos por categorias: viagens, noitadas, vandalismos em grandes corporações, coisas que você nunca fez, fantasias sexuais, entrar para o Guinnes Book de alguma forma, mudanças estéticas possíveis, fazer ou participar de filmes, musicas, livros, quadros, esculturas e desenhos. Mike tratou estes com mais carinho e até pensou na possibilidade de realizá-los. Também achou desperdício tantos sonhos que nunca chegarão a existir em outros lugares que não seja imersos no formol que ocupa a mente dos preguiçosos, onde se mantém intactos até sua morte. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Continuou vasculhando a caixa e encontrou uma chave.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Mike ficou bastante confuso sobre quem poderia ter colocado e o seu significado, mas achou normal, depois de uma ação incomum dessas, alguém não perder a chance de se aproveitar da situação.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">A chave lhe pareceu familiar, pois já fazia parte de seus planos. Inicialmente Mike pensou em subir até o terraço do prédio e pular. Na verdade essa era apenas uma das varias formas de morrer que lhe pareceu considerável. Remédios e pulsos abertos não lhe interessavam pelo seu caráter lento e sofrido. Da mesma forma fogo, afogamentos e enforcamentos. Tiros ou atropelamentos intencionais impossibilitavam caixões abertos. E quando Mike se perguntou por que estava preocupado com um caixão aberto ou não, decidiu-se por uma morte condizente com sua vida, deixando-se levar. No caso, pela gravidade.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Para subir até o terraço ele teria que conseguir a chave, que tranca a porta de acesso, com o zelador. Claro, isso não o impediria e seu plano B era simplesmente se jogar da janela. Mas agora que tinha chave, poderia usufruir de uma morte mais digna, pensou.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Mike agora tem em suas mãos a caixa mais paradoxal que já teve contato. E as questões contidas nela, falham miseravelmente em complexidade perto do que está lidando em sua cabeça.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Com pressa, Mike distribuiu aleatoriamente seus sonhos de padaria restantes para algumas pessoas de quem havia gostado dos sonhos. E em menos de quinze minutos estava descendo de elevador, até o zelador, que ficava no subsolo e era o principal suspeito de colocar a chave na caixa.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Veio rápido Mike. - Disse o zelador.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Estava me esperando?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">- Eu e você gostamos de ser sintéticos então pulemos as perguntas inúteis e vamos direto ao que interessa. Sei o que planeja. A chave que deixei se encaixa melhor do que todos os outros sonhos. Não acha? </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Me conhece? Porque fez isso?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Conheço você tão bem quanto me conheço. O seu coração vazio, seu olhar vazio, sua vida vazia; tudo isso me é bastante familiar.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Quem é você?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Somos uma sombra. Eu e você somos observadores da vida. Expectadores invejosos que se corroem com a felicidade alheia por não compreenderem porque não tem a mesma sorte. A única diferença entre nós, é que você nunca vai chegar a ser o que eu sou.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Olha me desculpe, mas você interpretou mal. Não era bem isso que pretendia...</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Mike, a chave só foi a minha opinião entre as outras que deve ter visto na caixa.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">- Não estou entendendo. Porque me quer morto? </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">- Sei que pretende se matar. E o meu conselho á você através da chave é que faça isso. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Como sabe?</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Porque se não o fizer, eu faço Mike.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Eu devo estar muito louco hoje.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Ambos estamos, mas te entendo, não está acostumado a lidar com essas coisas.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">- E não vou me acostumar não é mesmo? </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Mike, não desperdice o amor de ninguém. Nem o ódio. Não faça alguém assoprar cinzas ao mar tentando alguma ligação com você. Nós dois sabemos aonde isso vai dar. Não é por acaso que teve que descer até chegar a mim. Confesso que pensei na possibilidade de você, ao invés de se matar, matar a todos no prédio por ódio. Mas esse sentimento eu sei que você...</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">-... Não tenho, já sei! Puta merda... </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Escute, saia de seu lugar de conforto, onde quem não interage com a sociedade não tem responsabilidade sobre ela. O seu alheamento é parte integrante do todo, mais cedo ou mais tarde vai perceber. E você não tem nada de bom a oferecer, sua interação só pode ser maléfica.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">Mike não sabia como lidar com isso. Para ele eram tantos sentimentos, e em tal variedade, que seus receptores, quase virgens, não agüentaram o fluxo intenso. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Mike tinha em uma Mão a chave e na outra a caixa cheia de sonhos trocados. Olhou para uma de cada vez sem pressa. Apertou forte a caixa e a chave em suas Mãos. Fez uma pausa. Abaixou a cabeça e disse:</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Você tem razão.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Era a vida se mexendo dentro de um caixão. E Mike sentiu isso. Sentia fisicamente como uma overdose de adrenalina que fazia todo o seu corpo tremer. Como segurar uma faca após matar alguém com ela. Ou como encarar a morte face a face e escapar sem explicação. Um momento, suspenso do mundo, que lhe conforta antes que a realidade lhe inunde.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Mas Mike já estava farto desse lugar, foi movido pelos seus músculos intensamente até voltar para as escadas. Chegando lá, subiu decididamente até o vigésimo oitavo andar sem parar. Mike suava e se deliciava. Mal conseguia respirar e estava em êxtase. Suas pernas doíam tanto que mal lhe mantinham em pé, mas era assim que sabia que ainda continha vida. Estava raspando a panela.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Chegando ao seu destino existiam duas portas, uma de frente a outra. Mike tentou abrir uma com a chave e não conseguiu, tentou a outra porta e a chave a abriu.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Sentiu o sol no rosto, não por acaso, fez sombra nos olhos com uma das mãos e por um instante avistou o sol se pondo no horizonte delimitado pelo parapeito do prédio.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">Mike respirou fundo e, mesmo com as pernas doídas, arrancou. Correu com tal dedicação que as mesmas mãos que brotaram do chão de manhã precisaram surgir novamente tentando o impedir de pular. Porém foram ignoradas pelas suas pernas como se tivessem a mesma força de atrito que gotas de chuva. Mike sentia tanto vigor em seu físico que se gabou em saber que tinha muito mais força para aplicar do que precisaria para o salto. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">E saltou. Ainda segurando seus sonhos.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Teve tempo de ver a rua entre seu prédio e o prédio vizinho e a janela logo abaixo. Olhou para cima viu o céu. Fechou os olhos e caiu em silencio.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">Mike tinha razão, a vida era externa a ele, ele nunca a possuiu. Portanto é injusto dizermos que perdeu a sua. Na verdade, ele ganhou mais do que já teve em toda a sua existência nesse único dia. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Mas vida ainda tinha um plano para ele e foi executado mesmo com parcial vontade e consciência de Mike. Só assim para enganar a sí mesmo. A chave que Mike possuía abriu a porta de acesso ao lado Sul do prédio que tinha como vizinho menor um prédio residencial com uma cobertura e nela uma piscina enorme. Foi lá que Mike caiu.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Já que estava de olhos fechados ficou surpreso com a maciez da aterrissagem. Sentiu muita dor e sentiu que estava embaixo d água. Bateu com as costas no fundo da piscina. E percebeu que a caixa com os sonhos que estava segurando se rompeu com a queda e todos os sonhos estavam espalhados na superfície da piscina.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Mike resolveu ficar ali por um tempo e contemplar a cena.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">No dia seguinte, a vizinha coloca a coleira no cachorro, pega as chaves de casa, sobe o zíper de sua blusa de ginástica e abre a porta de casa. Ela já começa a fazer pequenos alongamentos quando percebe que seu cachorro está lambendo algo. Pára por um instante, olha e pega no chão um sonho, que haviam deixado em sua porta. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><b>Fim</b></span></div><div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><b><br />
</b></span></div></div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4553405352728329918.post-2110588465036742152011-03-28T11:23:00.000-07:002011-03-28T11:25:29.720-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://versodoavesso.blogspot.com/2011/03/liesel-meminger-e-uma-garotinha-de.html#more"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQtM4pdB5hZkuBUG5ynyCz8wp-xaxCRnReOny7YcVfjSZ12DXVFqk3RihVYWKsyR4MWA1JXCUoms5D_H8HC9P7RlIC5Ve2sqdsV64X4RF9Y8fXtIn-YV6go0JwdmrJaOAC8X68HsrNOSqz/s1600/BANNERMENINA.jpg" /></a></div><br />
<a name='more'></a><div style="text-align: justify;"> <span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Liesel Meminger é uma garotinha de apenas 10 anos que tem que se mudar com a mãe e seu irmão menor para Molching, uma cidadezinha nos arredores de Munique, fugindo dos horrores da Alemanha nazista. Porém, durante a viagem, um triste acontecimento faz com que o curso da vida dos personagens mude drasticamente; O irmão de Liesel morre e nesse lapso de tempo, entre o enterro do irmão menor e os acontecimentos seguintes, Liesel se vê cometendo seu primeiro "crime" ao roubar o manual para coveiros, esquecido no chão por um dos coveiros que havia enterrado seu irmão. Em seguida Liesel é mandava para sua nova família, constituída pelo casal de pais adotivos Rosa e Hans Hubermann.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Devido as dificuldades financeiras de sua nova família, Liesel se vê obrigada a ajudar a recolher a roupa suja dos vizinhos para lavar e passar. Nesse ínterim, Liesel conhece vários personagens, cada um cativante a sua maneira, e que se mostrarão de vital importância para o desenvolvimento da história.</span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhezdJSpglcgd5dk2qDuRnwNksrp4xqVXBOyDcu9usaebxewQRf7BWhnhGffXufAPvivQHo1tnXS6zSzEgpmiUfr4mSS9m29tHo9mvFVS_vTLNcEKfNWBP1rC6H4ree1-W51VdZA28DWsO8/s1600/3236279010_2162dc06aa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhezdJSpglcgd5dk2qDuRnwNksrp4xqVXBOyDcu9usaebxewQRf7BWhnhGffXufAPvivQHo1tnXS6zSzEgpmiUfr4mSS9m29tHo9mvFVS_vTLNcEKfNWBP1rC6H4ree1-W51VdZA28DWsO8/s1600/3236279010_2162dc06aa.jpg" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> <span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">A frase na parte de trás do livro, por si só, já é impactante: <b><i>"Quando a morte conta uma história, você tem que parar para ler"</i></b>. Afinal, o que se esperar de um romance onde a narradora é a própria morte? Em seu primeiro romance publicado no Brasil, o escritor australiano <b><i>Marcus Suzak</i></b> nos presenteia com um livro inteligente, repleto de personagens carismáticos, que você dificilmente conseguira esquecer após a primeira leitura. Liesel, a personagem principal, é uma garotinha de gênio indomável e extremamente perspicaz. Hans Hubermann, seu pai adotivo, é um homem de caráter bondoso que acolhe Liesel em seus braços como se fosse sua filha legitima e acalma suas noites de insonia tocando sue velho acordeom enquanto ela pega no sono. Rosa Hubermann, em contra partida, é o que eu chamaria de <i><b>"madrasta-má-não-tão-má-assim"</b></i>, pois com o decorrer da leitura, apesar da forma dura como ela muitas vezes trata as pessoas ao seu redor, você acaba tornando-se solidário a ela, pois percebe que o gênio forte dela não passa de um sistema de autodefesa, criado por ela mesma, para proteger0se e proteger as pessoas ao seu redor. Max Vandenburg é um boxeador judeu que após ser perseguido pelos nazistas pede refúgio na casa de um amigo do seu pai (Hans Hubermann) escondendo-se no porão da casa de Liesel. Graças a essa aproximação forçada, Max e Liesel acabam se tornando amigos, criando um vínculo que perdurará até o final do livro e da vida da então garotinha Liesel. </span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg002XzgeA5OWoB4aXdHf9GOc3uQW0eIuU-fdmaJBGJa3MK4_pYCHwf9kqXvxIpL_2FpmLKf-fsivls3lXx3E9HbmuyxNln-xYYrkiGKp-pmuTfljPpO-sNGSaMexKolRjMvRmv3IOeqDCT/s1600/1286572653291_f.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg002XzgeA5OWoB4aXdHf9GOc3uQW0eIuU-fdmaJBGJa3MK4_pYCHwf9kqXvxIpL_2FpmLKf-fsivls3lXx3E9HbmuyxNln-xYYrkiGKp-pmuTfljPpO-sNGSaMexKolRjMvRmv3IOeqDCT/s1600/1286572653291_f.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"> <span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Além dos personagens citados acima, outro personagem que na minha humilde opinião é o mais interessante e cativante de todos, é Rudy Steiner. A importância de Rudy para a história pode ser resumida em uma frase dita pela própria morte, no decorrer do romance: "<b><i>Ele mexe comigo, esse garoto. Sempre. É sua única desvantagem. Ele pisoteia meu coração. Ele me faz chorar." </i></b></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Assim que chegou em sua nova residência, numa ruazinha modesta, em uma casinha mais modesta ainda em Molching, Liesel conhece Rudy, durante um jogo de futebol desastrado e ambos acabam se tornando muito amigos. Rudy "persegue" Liesel a maior parte do tempo, sempre pedindo-lhe um beijo que é constantemente negado. Nas palavras da própria: "<b><i>A única coisa pior do que um menino que detesta a gente é um menino que ama a gente."</i></b> O relacionamento entre os dois acontece de forma natural, durante a melhor parte da infância, pontilhado em alguns momentos alternados de tristeza e alegria, mas com a pureza e inocência típica das verdadeiras amizades. Devo destacar aqui a cena hilaria e ao mesmo tempo emocionante, na qual Rudy usa carvão para pintar o próprio corpo de preto, após ver o atleta afro-americano Jesse Owens ganhar 4 medalhas de ouro nas olimpíadas de Berlim (isso em pleno regime nazista, sob o peso obressor do braço de ferro e Hitler) e vai até o campinho de futebol perto da sua casa para "brincar" de Jesse Owens.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Raramente releio algum livro, pois nutro a mesma opinião de S.K com relação a isso (a de que a vida é curta demais para perdermos tempo com isso) mas esse é um dos que farei questão de reler de novo e de novo e de novo...</span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhs2tXiWMLivlhYX0woqeENA4j6Yl32lkXLpY7MUsUsYsJK2OLcZ7L2HtfaejFhWq_iw423t-hVGvxilucDsh-RenxTnUhdJa4aMEUVvC0Zl7VbmjFR-xZTVQNSLRrCBYadmS0VeBLX19oG/s1600/Markus+Zusak.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhs2tXiWMLivlhYX0woqeENA4j6Yl32lkXLpY7MUsUsYsJK2OLcZ7L2HtfaejFhWq_iw423t-hVGvxilucDsh-RenxTnUhdJa4aMEUVvC0Zl7VbmjFR-xZTVQNSLRrCBYadmS0VeBLX19oG/s1600/Markus+Zusak.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"> <i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Markus Frank Zusak (Sydney, 23 de junho de 1975) é um escritor australiano, com sete livros publicados desde 1999, sendo "a menina que roubava livros" o mais conhecido. Zusak vive em Sydney com sua esposa e sua filha.</span></i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></i></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4553405352728329918.post-40337107933007169702011-03-27T13:18:00.000-07:002011-03-27T13:20:39.030-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://versodoavesso.blogspot.com/2011/03/alfred-jarry-nasceu-em-naval-mayenne.html#more"><img border="1" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicxFARHoNmHWN62qbS2aCL_RsxLm12KkC_nHOtsKK7UK71eI5QH-XSn7YA7aKxs-jorCTXMOvIzeErbM8GNbBrru4NbTJmxqpAZMOS_k9ck2rENNuIcsteDuZok-ad-N2qloAv62bmtk6a/s1600/bannerr.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><a name='more'></a><br />
<div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"> Alfred Jarry nasceu em Naval, Mayenne, França, no dia 8 de setembro de 1873. Jarry tornou-se precocemente criativo, e ao passo em que sua criatividade aumentava, também aumentava sua excentricidade. Com apenas 15 anos se aventurou-se, junto com colegas do liceu, a escrever a peça "Rei Ubu", que estreou no ano de 1896 em Paris, provocando grande escândalo. Independente da reação dos parisienses, o fato é que o Rei ubu teve diversas ramificações: "Ubu Cornudo", "Ubu no outeiro" e "Ubu agrilhoado". Entretanto, para a infelicidade de Alfred Jarry, nenhum destes foi representado durante o seu tempo de vida. Assim como o brilhantismo, sua morte também foi precoce. Alfredy Jarry morreu aos 34 anos, vítima de meningite tuberculosa. Apesar disso, sua obra (que não se resume ao ciclo Ubu) influenciou de maneira muito importante e decisiva o movimento surrealista, o que acabou por criar uma pseudociência que foi denominada de Patafisica (a ciência das soluções imaginárias). Jarry foi um dos pioneiros (senão O pioneiro) do teatro absurdo, explorando novas fronteiras até então inexploradas, abrindo um amplo caminho a ser percorrido pelo teatro moderno.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDhREc0-wKPE1vmBAoWtawq_1Cesus2Oj1u58xJ2lD6iYOZ69DrlwczemEQxB0ypRYOsMQ3quz-HR3rJ-x4PxSGr1eIUJm22Ll3iki-s20QRmn6-D4XoXO0hjM4sPMDb9H0mow3ZOYsm6j/s1600/200px-Alfred_Jarry.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDhREc0-wKPE1vmBAoWtawq_1Cesus2Oj1u58xJ2lD6iYOZ69DrlwczemEQxB0ypRYOsMQ3quz-HR3rJ-x4PxSGr1eIUJm22Ll3iki-s20QRmn6-D4XoXO0hjM4sPMDb9H0mow3ZOYsm6j/s1600/200px-Alfred_Jarry.jpg" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Em 1986 Alfred Jarry compra sua bicicleta (novidade aristocrática da época) e acaba nunca pagando por ela. Foi apenas um tempo depois que Jarry escreveu sua curiosa obra intitulada de "Gestes et opinions du docteur Faustroll, pataphysicien" no qual expõe a patafisica como a ciência das soluções imaginárias.</div><div style="text-align: justify;"> Jarry viveu a vida desregradamente, sem esperar muito das coisas, de posse de sua bicicleta, seu revolver e seu absinto. Compôs várias comédias em verso e em prosa, entre os anos de 1885 e 1888. Entretanto, foi inspirado em seu professor de física, que segundo o próprio era "a encarnação de todo o grotesco que existe no mundo", que Jarry escreveu uma comédia chamada "Les Polonais". Foi essa a primeira versão de Ubu Rei. A peça foi apresentada pela primeira vez em 1894, na casa do casal Alfred (diretor do Mercure de France) e Rachilde Valette. Dois anos depois, mais precisamente no mês de dezembro de 1986, ocorreu a tumultuada estréia de Ubu Rei.</div><div style="text-align: justify;"> Em tese, como foi dito anteriormente, a patafisica é descrita como "ciência das soluções imaginárias e das leis que regulam as exceções". A patáfisica se expressa frequentemente através de uma linguagem aparentemente sem sentido, uma maneira anárquica de tentar explicar o absurdo existencial e teria por missão explorar o campo das idéias tão constantemente negligenciado pela física e metafisíca (sento a patafisica o oposto dessa ultima).<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br />
</div></div><div style="text-align: justify;"><b>O Rei Ubu</b></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> A peça tem inicio com Mãe Ubu manipulando Pai Ubu para obter a coroa do Rei Venceslau, para assim tornar-se rainha. O plano é assassinar o rei para usurpar-lhe a coroa, entretanto Pai Ubu reluta (ao menos num primeiro momento) em assassinar a sangue frio o rei da Polônia No segundo ato entra em cena o Capitão Bordadura, personagem que será de vital importância para o desenrolar dos fatos pitorescos narrados por Alfred Jarry. Mãe Ubu convence, por fim, Pai Ubu a levar adiante o plano de assassinar o rei da Polônia e Pai Ubu promete fazer do Capitão Bordadura o Duque da Lituânia, caso o ajude.</div><div style="text-align: justify;"> O rei manda chamar Pai Ubu, que teme ter sido descoberto. Entretanto, logo ele se da conta de que o Rei não suspeita de suas intenções maléficas para com a sua pessoa. Dá-se inicio então a conspiração entre Mãe e Pai Ubu e o Capitão Bordadura, que levará a cabo o Reinado de Venceslau, coroando o novo Rei Ubu.</div><div style="text-align: justify;"> É no segundo ato que descobrimos que a Rainha, esposa do Rei Venceslau, está ciente dos planos de Pai Ubu e tenta, em vão, alertar o rei para o perigo iminente. No segundo ato também somos apresentados ao personagem de Bugerlau, filho da Rainha e do Rei. Enquanto isso, pai Ubu segue em frente com seu plano de usurpar a coroa do Rei.</div><div style="text-align: justify;"> É durante uma revista que dá-se o plano de conspiração maléfico, quando Pai Ubu, Junto ao Capitão Bordadura e seus homens (Girão, Pile e Cotice), dão cabo do Rei, roubando-lhe a coroa e matando a ele e a seus filhos Boleslau e Ladislau. Bugeslau, o outro filho do Rei e sua mãe, a Rainha, acabam escapando do ataque e se refugiando em uma caverna nas montanhas. Lá a rainha acaba morrendo e Bugerlau é visitado pelos fantasmas de Venceslau, Boleslau, Ladislau e Rosamundo e seus antepassados. Um deles o presenteia com uma grande espada que será usada como arma para vingar-se de Pai Ubu.</div><div style="text-align: justify;"> Enquanto isso, Pai Ubu conquista a simpatia do povo. Entretanto, logo a simpatia mostrada pelo agora Rei Ubu transforma-se em tirania e Rei Ubu acaba condenando a todos que não concordam com seus ideais ao alçapão; Rei Ubu acaba traindo o Capitão Bordadura, que, não obstante, consegue escapar de sua prisão e se rebela contra o tirano Ubu.</div><div style="text-align: justify;"> Logo o regime totalitário do novo Rei Ubu passa a apresentar problemas, enquanto mãe ubu conspira secretamente para tomar posse do tesouro do Rei. Pai Ubu é então ludibriado pelo Capitão Bordadura e acaba destronado, refugiando-se em uma caverna na lituânia, junto com Pile e Cotice, que se aproveitam de um momento de distração do Rei para abandona-lo a própria sorte, deixando-o ao cair da noite, enquanto Pai Ubu dormia. Coincidentemente Mãe Ubu acaba se refugiando na mesma caverna e na escuridão do lugar se passar por um fantasma e convence pai Ubu a perdoar suas roubalheiras. Porém, Pai Ubu descobre a tempo os planos da audaciosa Mãe Ubu.</div><div style="text-align: justify;"> Bugerlau chega até a caverna com seus soldados e encurrala Pai e Mãe Ubu. Entretanto Pai e Mãe Ubu acabam conseguindo fugir de Bugerlau. A peça termina com Pai Ubu e os seus fugindo para a Alemanhã em um barco.</div><div style="text-align: justify;"><br />
<b>O absurdo louvável</b></div><div style="text-align: justify;"><br />
O texto extravagante e completamente "no sense" de Alfred Jarry é recheado de referências à Patafisica, desde as características peculiares dos personagens até as situações inusitadas que os mesmos vivem. Pai Ubu, com seus trejeitos peculiares (covarde, usurpador, mesquinho, aproveitar, desonesto e etc), exerce maravilhosamente bem a função de um dos primeiros anti-heróis do teatro. Mãe Ubu não fica atrás. Manipuladora e interesseira ela faz com que Pai Ubu pense que todas as boas idéias provém de sua própria cabeça, o que não é, em absoluto, verdade, já que a mente pensante por detrás da historia é na verdade a da sua esposa. Perspicaz e rasteira como uma cobra, Mãe Ubu consegue realizar praticamente todos os seus desejos (mesmo que temporariamente), e isso inclui; tornar-se rainha e até mesmo fazer com que o Rei Ubu perdoe sua traição e consequente roubalheira.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> A historia de Ubu Rei foge dos padrões "normais" estabelecidos pela sociedade, por isso mostrou-se tão inovadora e ao mesmo tempo incompreensível, ao menos para a época em que foi escrita. Mortes, pilhagens, cinismo, maldade e violência em excesso, temperados com pitadas de bom humor e sarcasmo, Ubu Rei é ao mesmo tempo uma história ridícula e divertida, um espelho grotesco e absurdo da iniquidade humana. Fugindo dos padrões ditos como "normais" Ubu Rei torna-se uma das principais representações do significado da patafisica, "O absurdo tentando explicar o inexplicável".<br />
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<br />
</div></div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4553405352728329918.post-87914996929340825932011-03-23T08:32:00.000-07:002011-03-23T08:38:13.417-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://versodoavesso.blogspot.com/2011/03/nem-intimidade-de-tua-fronte-clara-como.html"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXC_MmnLIjyeyjUXLbmbbegGQVSWhU5JhyrY8NNC3anC72x_OM_L2xn9P6A9-uVw_z-tEITgucMYJtIEc8euJs0hUaRa_xODeQqVkxLsJgwEweaTQ3Oc5J8-I93cCMv-o8ztJ4oorg-8QW/s1600/images.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i>"Nem a intimidade de tua fronte </i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i>clara como uma festa, nem o costume de teu corpo, </i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i>ainda misterioso e tácito e de menina, </i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i>nem a sucessão de tua vida assumindo palavras ou silêncios </i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i>serão favor tão misterioso como olhar teu sonho </i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i>envolvido na vigília de meus braços..."</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><i>Amorosa antecipação - <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_luis_borges">Jorge Luis Borges</a></i></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4553405352728329918.post-71232985747336967872011-03-19T18:55:00.000-07:002011-03-19T19:24:18.363-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://versodoavesso.blogspot.com/2011/03/conto-por-edilton-nunes-aos-porres-em.html#more"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjW2nZ1vQevBjC99smN2lZX8f4FJILbwlgxPWSWH0cXykxud8cZtznxBh-1PBJCsfXmwEuijPraYWhQsYamAuh0Egi4JYJnX_QNeORbksvXkyruWcsYQcy-OD8kH2VWE3P0Tq9W2WVGyvBM/s1600/VIUVAGABRIELA.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><a name='more'></a><br />
<div style="text-align: justify;"><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;"><div style="font-weight: normal; text-align: center;"><span style="color: black;"><span style="font-size: small;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman', serif;"> </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> </span></span></span><span class="Apple-style-span" style="line-height: normal;"><b>Conto por: </b></span><span class="Apple-style-span" style="line-height: normal;">Edilton Nunes</span></div><div style="font-weight: normal;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: normal;"><br />
</span></div></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;"><span style="color: black;"><span style="font-size: small;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Chovia aos porres em Santa Clara e o céu parecia desmoronar-se em água, quando a carruagem de Maria Antonieta dobrou a única esquina ladeada de paralelepípedos. Metade da cidade havia abdicado de seus afazeres matinais e se prostrara ao redor da ruazinha principal, com as cabeças espichadas para fora das janelas, os olhos vidrados, alguns ainda com remela a corroer-lhes a iris, e bocas semiabertas, avidas por informação. De quem se tratava seria o assunto principal, o por que da visita inesperada viria em segundo plano, e quais benefícios concretos traria a passagem da forasteira inusitada em terceiro, porém, não menos importante. </span></span></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;"><span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"> O trote dos dois cavalos que puxaram a carruagem se desfez junto a casa da prefeitura, onde um aglomerado de moradores já se fazia presente. As portas duplas de madeira se abriram e de lá de dentro desceu uma senhora distinta, que apesar de quase sexagenária, se portava com vigor e altivez digna dos primeiros comentários por parte da aglomeração. Ao seu lado, como que coroada por anjos, a expressão máxima da beleza capitanial. Maria Antonieta Castro e Silva. Longos cabelos dourados, olhos tão azuis quanto um céu sem nuvens, lábios rosados e pele alva feito porcelana. Desfilava por entre a plebe com desenvoltura e graça das criaturas naturalmente evoluídas, deixando, a medida que o fazia, um rastro perfumado de alfazemas que deturparia a paz de qualquer homem, por mais resignado a racionalidade que esse o fosse. Não tardou para que a noticia de sua vinda da capital chegasse até meus ouvidos, só algumas horas após o desembarque no prédio da prefeitura. "Se parece com um anjinho de porcelana", dissera o mensageiro, provavelmente absorto em pensamentos cujas intenções não eram de todas respeitáveis. "Veio com sua tia avó, Ermenilda, lá da cidade. Parece-me que a negócios."</span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="color: black;"><span style="font-size: small;"> Como que por coincidência, creio eu, à sua visita precedeu-se uma série de "incidentes" naturais. Uma tormenta de proporções gigantescas, se levarmos em consideração o tamanho insignificante de nossa cidadela, destelhou metade das casas e arrancou as plantações de macaxeira pela raiz. Choveu, então, durante cerca de quarenta dias e quarenta noites ininterruptas. Quando o sol abriu, metade da cidade fora alagada e o barro invadira as casas pelas reentrâncias dos tijolos, das telhas, frestas de portas e janelas. Qualquer orifício de tamanho superior a um buraco de agulha se mostrara convidativo. Coube ao prefeito, cidadão de índole indubitável, que permanecia sobre constante ameaça de um ataque de nervos, custear a reforma dos casebres atingidos com o pouco de verba que conseguira arrecadar com os impostos, já elevados. A água do poço principal que abastece Santa Clara e metade de Santa Luzia, município vizinho, tornou-se, da noite para o dia, salgada, como que transmutada por mágica em água do mar. Há quem diga ter ouvido, durante a noite, enquanto quase todos dormem em silêncio, um ruido estranho, como que sussurrado das entranhas do poço de águas misteriosas. Correu logo o boato desmedido de que havia ali um corpo de baleia enterrado e que aquele que arremessasse a centésima moeda no poço, a desejar a sorte que por ventura jamais lhe seria atribuída, despertaria a criatura que ali padece em sono profundo. Um tremor de terra estremeceria metade de Santa Clara e traria abaixo as casas, barracas e mesmo as tendas decrepitas dos ciganos proscritos, que vez ou outra montavam campana nos arredores da região. </span></span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"> Tal boataria não poderia originar-se de outra fonte, senão da boca imunda da viúva Gabriela. Figura de aspecto famigerado, avançando sempre de cocoras pelas ruelas forradas de paralelepípedos da cidade, protelando migalhas, de cabelos desgrenhados e pedaços de pano mal trapilhos a cobrir-lhe o dorso, de maneira precária e moralmente duvidosa. <b><i><span class="Apple-style-span" style="color: #990000;">“Uma moedinha aqui senhor, que em tua casa não faz falta”</span></i></b>. Chamavam-na de velha e louca, tendo como base sua aparência física e sua constante distorção da realidade motivada pela ausência do marido morto. Porém, por mais que aparentasse, viúva Gabriela não padecia de nenhum dos dois males. Soltava fumaça dos pulmões feito uma chaminé, mas nunca carecia de preocupar-se em comprar cigarros. Também não afanava. Não era do seu feitio agir com imprudência contra os que, direta ou indiretamente, saciavam-lhe a fome. Fumava as bitucas que recolhia com vigor do chão dos prostíbulos, usufruindo de uma ultima e prazerosa tragada por eles proporcionada, e quando o fazia, certificava-se, quase sempre com todo o esmero possível, diante da relativa parcela de lucidez que a acometia naqueles momentos, de que nenhuma grama sequer de fumo havia restado na palha. Como passatempo se empenhava em realizar previsões, em grande parte falhas, relatando os pormenores das revelações atribuídas a ela pela borra de café. O que era de conhecimento de poucos é que vez ou outra costumava a viúva lograr hesito em suas peripécias adivinhatórias, como quando da chegada de Maria Antonieta até Santa Clara. <span class="Apple-style-span" style="color: #990000;"><b><i>“Eis o que a borra nos revela: Uma dama vestida de negro, não por luxuria ou luto, mas devido ao fluxo inconstante e impreciso da dita moda, virá. Adornada de pedras preciosas e recoberta pelo cetim avermelhado do forro da carruagem, trará consigo a peste e a miséria, considerando-se que não há um sem o outro, posto que não são sinônimos, mas carecem de razões semelhantes para coexistirem.”</i></b> </span>Recitara a previsão com o dedo em riste e os olhos revirados das orbitas, ao passo que a mão direta jazia mergulhada na borra de café, atulhando a xícara até a metade. Padecia do suposto transe espiritual que antevira boa parte das previsões anteriores, observada por meia duzia de transeuntes que se limitaram a abdicar de suas atividades diárias e se prostraram diante da suposta adivinha com os olhos arregalados e o suor a escorrer-lhe sobre a testa vincada de rugas. Nos olhos a expressão de incredulidade, já que por mais belas que fossem suas palavras, nada significavam perante a população pouco esclarecida. Aqueles ainda não tinham sido tocados pela importância imensurável da revelação atribuída a eles pela viúva louca-não-tão-louca. Tal fato, é obvio, não tardaria a ocorrer, visto que dali a pouco mais de dois dias a premonição se faria tão concreta que se poderia literalmente tocá-la, e a carruagem de Maria Antonieta, ultima herdeira legitima da nobre estirpe dos Castro e Silva, se materializaria como que por mágica às portas da prefeitura.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;"><span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"> </span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"> Conta-se que em tempos memoráveis, que precederam muito provavelmente em anos a construção da primeira edificação concreta de Santa Clara (uma casinha de pau-a-pique, com dois quartos, cozinha, sala e banheiro, espremidos em pouco mais de dez metros quadrados, numa ruazinha de clima seco e terreno árido), Viúva Gabriela, então solteira e órfã de Pai e Mãe, já padecia dos infortúnios provenientes da doença diagnosticada por ela própria como “pobreza crônica”, fruto da avareza incomum dos pais, que graças a má administração financeira culminara na falência quase total de bens materiais. Trataram logo de expugnar-lhe o nome do contrato de herança, temendo que o pouco que lhes restara fosse subtraído pela filha, cuja índole já se mostrara perspicaz e deverás desafiadora. <b><i><span class="Apple-style-span" style="color: #990000;">“Que Deus nos valha e nos ajude. Montamo-nos num covil de cobra, Antônio.”</span></i></b> Ouvira, sem querer, a mãe pregar certa vez, em meio a um acesso de nervos repentino, enquanto se acocorava na soleira da porta e remoía a camada de pele superficial dos pés com uma lixa de bucha vegetal. Conhecia de pronto aquele tom de voz, pois sempre que o fazia a mãe carecia de tomar gosto pelas palavras. Ofensas pessoais quase que palpáveis. Tão concretas que se poderia soprá-las e vê-las voando pela janela, feito andorinhas sobrevoando o telhado numa tarde quente de verão. Nestes casos a audição não se limitava a bloquear-lhe os impropérios, mas ao contrário, amplificava-os, de modo a que se pudesse ouvi-los mesmo à léguas de distância. Partia-lhe o coração sempre que tais afrontas eram proferidas em seu nome, por mais merecidas que o fossem, já que a quase órfã Gabriela nunca se portara como exemplo de moça de boa índole. Porém, naquele ano, a rotina ofensiva permaneceu em relativa calmaria, com o decorrer dos meses que se arrastavam mornos pelo ano de plantio menos produtivo das cinco ultimas décadas, até, é obvio, a data da passagem do <i>“Redemoinho Loiro”</i>, numa tarde tão quente que a saliva secava antes mesmo que pudesse umedecer os lábios. Chamavam-na assim pois era a personificação humana da fúria naturalmente exibida nos círculos de vento. Os cabelos amarelos caiam-lhe sobre os ombros em pequenas ondas, frágeis e de movimento inconstante. Os olhos eram tão grandes e encantadores quanto diamantes brutos, recém lapidados e de valor, tanto financeiro quanto moral, incalculáveis. A pele era lisa e castigada pelo sol. Já os lábios, rosados feito morangos frescos, padeciam no auge de sua maturidade, como que uma parte desconexa, porém tão bela quanto (ou mais) o restante do conjunto. Chamava-se Clara Gabriela, prima em terceiro grau e enteada de batismo da mãe de ainda não órfã Gabriela.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;"><span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"> A beleza de Gabriela Prima, acentuada pelos contornos endeusados de seu corpinho recém-formado de mulher, atraíram quase que de imediato a atenção de Antônio, instigando-lhe nas noites de insonia os mais perversos e repugnantes desejos sexuais, aflorando-lhe de modo instintivo e pecaminoso os desejos incontroláveis da carne. Logrou hesito em controlar seu impeto selvagem de macho reprodutor durante o longo e cansativo período de duas semanas, vivendo e sobrevivendo em relativa harmonia com a sobrinha de batismo da dedicada esposa, descontando-lhe o desejo sexual quase desenfreado nas costas já arqueadas da própria esposa, que já passara a desconfiar (mas não reclamar) do apetite desmedido do marido, até então tão pacato e solicito.</span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;"><span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"> Encontrou-a à beira do rio, de águas tão calmas e cristalinas que se podia enxergar até mesmo a superfície ondulada das rochas ao fundo, sem que para isso se tomasse de muito esforço. Banhava-se na água corrente pelo menos três vezes ao dia, dando conta das partes intimas com um pedaço duro de sabonete artesanal a agredir-lhe a pele, com cheiro inebriante de jasmim e textura áspera de bucha de ganhão. Tencionava com isso espantar o mal olhado. Dentre as inúmeras frivolidades atribuídas às mulheres de sua estirpe, aquela era a que mais lhe apetecia. Tinha em voga que moças de boa índole careciam, antes de tudo, de inquestionável higiene pessoal.</span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;"><span style="color: black;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"> Espiou-a de cocoras, oculto em meio ao mato, com a ânsia aflitiva dos necessitados, esperando, controlando-se a medida em que o redemoinho loiro se desvencilhava das vestes, exibindo os contornos do corpinho recém-formado de maneira pouco lúdica, porém, na mente perturbada do quinquagenário Antônio, sensual e hipnoticamente devastadora. Sentia o desejo a aflorar-lhe a pele a cada peça de roupa despida, a cada contorno revelado, a cada seio exposto. A água escorrendo pelo cabelo amarelo, aos seus olhos, era como o encontro irracional entre fogo e água, a harmonia impossível materializada diante dos seus olhos de pouco credo, ao alcance das mãos calejadas. Notando que a sensação de solidão não era de toda legitima, Clara Gabriela logo tratou de cobrir ar partes intimas, guardando para si o pouco de recato do qual ainda dispunha. <b><i>“Quem está ai?” </i></b>Não obteve resposta. Porém, antes que se prestasse a repetir o questionamento, ouviu um graveto a estralar no mato. Antônio Inácio se revelara, sem pompa ou ostentação, com um sorriso amarelo que pouco mais era que um entreabrir de lábios secos, umedecidos apenas pela saliva que lhe escorria da boca, ao passo em que os olhos, outrora vividos e astutos, se fixavam mornos na beleza escultural de sua dama adornada, despida de todo o seu pudor logo a frente. Não rogou que lhe perdoasse a indiscrição, assim como não manifestou qualquer intenção que fosse de demonstrar que o que fazia era, sem margens para duvida, inapropriado. Avançou aos trancos e barrancos, observando, ainda que de longe, premeditando na mente febril tanto quanto astuta, cada possível reação por parte de sua deusa encarnada. Usou os braços fortes, puxando-a de encontro a seu corpo recoberto de cicatrizes e queimaduras do sol, laçando-a feito gado sendo levado para o abate. Não havia de existir amor ali, ou mesmo o mais ínfimo fragmento de algo que se assemelhasse a tal. Apenas a fúria intuitiva de macho reprodutor a corroer-lhe as entranhas, escorrendo pelo estomago e indo de encontro às partes pudicas, acendendo-lhe o fogo do apetite sexual desenfreado. À Clara Gabriela não restou nada, senão acolher aquela manifestação cruel de virilidade da maneira como pode, ainda que de mal grado. Rasgou-lhe a blusa, cheirando, sugando a essência de jasmim de seu corpo feito terra seca absorvendo chuva nova. Passeou por sobre as curvas do seu quadril largo, ligeiramente desproporcional, com as pontas dos dedos calejados a ofender-lhe, ao passo em que iam de encontro as partes intimas, à terra fértil ainda inexplorada. Clara Gabriela desfez-se em pranto e bastou-lhe apenas um único gemido inconsciente de dor, para que seu mundo desabasse em um orgasmo tão superficial quanto profano.</span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; orphans: 2; widows: 2;"><span style="color: black; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Seus corpos largados ao léu descansavam, enroscados, suados e banhados pela água corrente que, como logo constataria prima Gabriela, não fora suficiente para expugnar-lhe do dorso o estigma de mal olhado. Fora em meio aos murmúrios de arrependimento, em meio as troças desconexas de que se poderia interpretar como um pedido de desculpas, que sentiu a fisgada repentina na altura do abdômen. De inicio pensou tratar-se de uma mordida de peixe, um encontro indesejável com um molúsculo espinhoso. Porém, antevendo a ideia que logo passaria a se materializar de forma mais concreta, sentiu o estomago sendo rasgado e outra mão, essa desprovida de carinho ou mesmo da brutalidade sentimental da qual padecem os loucos de amor, apertando-lhe os braços, forçando-lhe a barriga de encontro a lamina afiada de uma faca. O rosto a sua frente palpitou, o mundo encheu-se de um vermelho crepuscular e os olhos da agora órfã Gabriela fitaram-na através do manto de sangue que ocultava-lhe a visão. Caiu morta em seus braços, antes que o derradeiro suspiro findasse, com os olhos abertos em um misto inapropriado de pavor e indignação, ainda fitando o amante com a garganta cortada num talho que varava-lhe o pescoço de uma orelha a outra, nú, boiando sobre o leito do rio de águas vermelhas.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; orphans: 2; widows: 2;"><span style="color: black; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Órfã Gabriela limpou a lamina da faca com a bainha do vestido, remoendo as lembranças antigas de um passado não tão remoto assim, mas que, diante das circunstancias, se fizera passado. Do tipo morto e enterrado. Cravou a lamina no chão, entre um amontoado de pedras pontiagudas, rasgando metade da mão direita em uma delas, durante o processo, e suspirou. Não havia alivio naquele suspirar. Menos ainda a sensação de desprendimento da carne que tencionara sentir após o ato. Fizera um favor a mãe, era o que a mente, agora conturbada e repleta de indagações pessoais inesperáveis, se fazia pensar. Faria outro. Dar-se-ia ao trabalho de enterrar os corpos dos dois amantes de vida curta, antes que o sol se dispusesse a varar o horizonte. Primeiro o dela. O da prostituta que profanara, sem o menor indicio de remorso, a santidade proclamada de seu lar. Em seguida seria a vez dele. Cortar-lhe-ia o resto da cabeça fora, indo a forra, motivada pelo desejo repugnante camuflado de justiça. Porém, o que se pode notar em um tom sincero de pesar, se é que me permitem tal intromissão, é que Órfã Gabriela era a personificação ostentada da maldade. Talvez o por isso do encontro que se seguiu ao enterro.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; orphans: 2; widows: 2;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Sentiu a mão gelada do morto a agarrar-lhe o pulso com a força descomunal do outro mundo. Os olhos da cabeça decepada por baixo da terra fitavam-na, completamente brancos, revirados nas orbitas oculares a padecer em transe profundo. Da boca reverberavam impropérios diversos, ao passo em que a língua do defunto se movia astuta, espantando a areia que bloqueava-lhe as cordas vogais, feito uma uma serpente a vagar pelo deserto escaldante, hora sumindo, hora aparecendo, hora visível, hora invisível. Com o pomo de Adão a ir e vir num frenesi descontrolado, o jogo de palavras veio rápido e sem pausas. <b><i><span class="Apple-style-span" style="color: #cc0000;">“Órfã Gabriela, mata e enterra. Já veio o Diabo, e de pronto lhe carrega. Órfã Gabriela, mata e enterra. Já veio o Diabo, e de pronto lhe carrega. Órfã Gabriela...” </span></i></b> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; orphans: 2; widows: 2;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Por instinto Gabriela lutou, bravejou e implorou pelo auxilio celestial. Em resposta nada veio, senão o silêncio reprovador de um pai decepcionado com o filho, de cujo castigo se mostrara merecedor. Porém, nem o Diabo se veria livre das garras tão demoníacas quanto, da agora órfã Gabriela. Visto que em sua doentia concepção deturbada, o mal se combate com o mal, lançou a mão que de livre ainda restava ao ar, resmungando dois ou mais termos desconexos, quase inaudíveis, antes de recitar as palavras finais, sussurradas perante o calor das chamas do inferno que começam a fustigar-lhe a pele. <b><i><span class="Apple-style-span" style="color: #990000;">“Espere... Espere... Um acordo. Façamos um acordo, honesto e limpo, como os bons acordos devem ser. Dou-lhe de pronto, o que bem quiser, caso rejeites minha oferta. Senão, trago-lhe uma alma pura. A primeira em sucessão. O primogênito de minha linhagem, o primeiro da estipe que ainda há de nascer do meu ventre imaculado.”</span></i></b> Como que guiada por magia, sentiu a mão do morto afrouxar-lhe o aperto. Numa sensação quase cômica de alivio bateu com as nádegas nada proeminentes de supetão no solo pedregoso da margem do rio. O olho moribundo ainda a fitava com o mesmo branco opaco e sem vida a correr-lhe a iris, dançando de modo lento, quase hipnótico, pelas orbitas.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; orphans: 2; widows: 2;"><span style="color: black; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> O medo se fez concreto, rodeado pela sensação arbitraria de perigo intencional que os olhos do morto suscitavam. Ainda há de nascer criatura capaz de definir tais sentimentos, de traduzi-los em palavras, visto que nema própria viúva jamais se prontificara a fazê-lo. Os fatos aqui narrados são uma mera tentativa, que não se assemelha, nem de longe, com o terror original imposto pelo defunto de olhos revirados. O pouco de relato que se tem noticia, com exceção desse, encontra-se encoberto pela tênue camada de superstição que o tempo dos menos esclarecidos se encarregou de criar. Porém, é de certo que a tragédia que se abatera sobre a agora Órfã Gabriela, na data de seu encontro com o carcará em pessoa, padeceu de ramificações misteriosas diversas. A partir de então, por onde passasse, cada pequeno pedaço de terra que se prontificava a aquendar prosperou como nunca havia se visto. De improdutivos cestos de estrume de gado passaram a áreas férteis, donde até mesmo o mais inapropriado pedaço de grão germinava. Tornara-se conhecida em toda a região do Alto Engenho como <i>“A mulher que enfrentou o Diabo”</i>, em uma versão ligeiramente diferente, porém mais conhecida e disseminada do que a historia original. Tornou-se adivinha de borra por acaso, quando se prontificara a fazê-lo certa vez, durante um anoite de fúteis frivolidades que encabeçaram as festividades de ano novo. Acabou, como que por acidente, logrando hesito em suas peripécias adivinhatórias, acertando desde a virgula primeira ao ponto final de sua mais conhecida premonição. Sua prima Bernardete (moça recatada, de índole inquestionável e residente no exterior, despedindo-se dos momentos finais de descanso no Alto do Engenho com o mesmo nó na garganta de muitos que viriam depois dela) ouviu-a recitar a previsão com o indicador, abraçado tantos anos antes pelo morto, em riste, e o mesmo olhar hipnótico que guardaria pelos anos e inúmeras premonições mal cabidas que se seguiriam. Segundo ela, sua prima lograria hesito na então árdua missão de tornar-se mãe, mesmo com a pistola do marido já não disparando tanto quanto de praxe. <b><i>“Não me interprete mal prima. É que a qualidade da pólvora já não é mais a mesma com o debandar dos anos”</i></b> apregoava ela, em tom sarcástico, porém otimista. <b><i>“Sossegue prima. Há de nascer um machinho bem requisitado e robusto, que porá fim ao martírio do seu parto inconcebível. Caso contrário, mudo de nome e faço penitencia num convento de freiras.”</i></b> Há quem diga que ouvia-se um risinho descabido, vindo de onde não se sabe, sempre que tal promessa era proferida, já que aquela não fora a ultima vez, nem de longe, que a agora Viúva Gabriela se mostrara tão confiante de si mesma. O que se sabe dai em diante (assim como boa parte do anterior) é pura especulação e carece de fontes mais confiáveis. Porém, o que é importante ressaltar, é que a penosa historia de Viúva Gabriela não se conclui por aqui. Apenas descansa, padece em seu sono profundo assim como é quase certo que o mal que se instalara no coração de não-tão-pobre-viúva também dorme, aguardando apenas pelo momento certo do despertar.</span></div></div><br />
<br />
<div style="text-align: center;"><b>FIM</b><br />
<b><br />
</b></div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4553405352728329918.post-8860574312502078112011-03-18T08:41:00.000-07:002011-03-19T19:24:46.870-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://versodoavesso.blogspot.com/2011/03/deu-se-por-ser-vivente-aos-sete-anos-de.html#more"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhydMTFopXzX58qCweBoeSoUxSbQZIKXo7_9gOlNkKojEmD4gVJ40Lrd3hDQd-Lj_jc8b0Q9HT42_yppTB4na9znmApJrLQpMNLE4ds6V18BJ35PTAIVL5_QoZo6MJFhXT4XZ-BRvc-ASX5/s1600/MENINOAZUL.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><a name='more'></a><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">Deu-se por ser vivente aos sete anos de vida. Pois era dessa época pouco conturbada, donde os rios se moviam mais leves e as águas eram mais diáfanas, que sua mente agora velha e confusa se fazia lembrar. Comprimiu-o a sensação do êxtase exacerbado, típica das crianças que se vêem livres de algum martírio, pois naquele mesmo dia, antes que os primeiros raios de sol se despusessem a varar o horizonte, acordara com o ânimo irresoluto, motivado pelos gritos incessantes do pai a bravejar junto a sua cama. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Remexeu-se sobre a mistura de concreto e barro, forrada de folhas secas de bananeira, coçando o umbigo carcomido pela alergia da qual ainda não tinha consentimento e acordou, ciente de que o dia seria árduo tanto quanto recompensador. Merendou bolachas comuns, ainda com gosto e cheiro remanescentes do fogão a lenha e bebeu do café forte quase sem açúcar, preparado sem jeito pelas mãos machucadas do Sr. Apolinário. Rezou, como de costume, duas avé-marias e três pai-nossos, ofertando a merenda matinal a Santo Expedito e Padrinho Cícero, sem se dar conta que o fazia mais por temor do que respeito, diante das afrontas que o pai vez ou outra proferia em seus nomes, como se os erros, assim como a cor da pele e os traços do rosto, pudessem ser transmitidos de pai para filho, desde o berço.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">Saiu cedo com o pai para o plantio, calçando as apragatas velhas, cujas pontas permaneciam presas apenas por escassos pedaços de arame enferrujado, arrastando-se com preguiça pelo dia que mal começara, levando em uma das mãozinhas calejadas a marmita que poria fim a fome quando o sol do meio-dia se intrometesse por entre suas cabeças, ocultando as sombras outrora dispersas. Apesar do suor escorrendo como orvalho, que a ele nunca parecia vir de lugar algum senão do próprio vazio, o sorriso nos lábios fazia-se constante, em especial naquele dia. Resignara-se a manter a mais alta descrição com relação ao assunto, quando Papai Apolinário prometera, apenas duas luas antes, leva-lo ao circo que se aproximava com estardalhaço da cidade. Mulheres barbadas, homens de dois metros de altura, gemeas-siameses (papai Apolinário tomara o cuidado de explicar-lhe os pormenores do termo, num misto de informações que suscitaram grande confusão na mente pouco imaginativa do filho), mulheres que se transfiguravam em cobras, cobras que se transfiguravam em homens, homens que não eram de todo homens, tudo incitava a curiosidade do pequeno Antônio Apolinário a ponto de roubar-lhe as noites de sono com o mesmo vigor de uma parteira conduzindo o momento crucial do parto. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Admirava os mágicos, mais pela postura do que pelos efeitos alucinógenos dos truques, mais devido aos trajes formais que sabia serem tão distantes de sua realidade quanto coelhos capturados do interior de uma cartola velha, do que os truques do adivinho de cartas que tanto o assombrava. Havia ali um sentimento de complacência, de compreensão mútua do ponto de vista do garoto, visto que aquelas pessoas mentiam para viver, de livre arbítrio e por si próprias, ao passo que Antônio Apolinário fora incapacitado de fazê-lo desde a tenra infância, motivado à tabefes e pontapés dos pais, que faziam uso dos métodos pouco ortodoxos de ensino como a mesma ferocidade de um grupe de abelhas fabricando mel. Nutria respeito em igual proporção pelos palhaços, pois em sua mente intuitivamente fértil, um homem suficientemente disposto a vestir uma roupa multicolorida e se expor ao ridículo era duas vezes mais homem.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Era escasso o conhecimento do Sr. Apolinário em se tratando de câmbios monetários, portanto viu-se mais surpreso do que esperava ao receber a notícia fatídica, vinda do próprio dono do circo que fazia as vezes de recepcionista, de que a entrada para a então "fantástica seleção de aberrações naturais circense" era de incríveis dois contos de Réis. Evadiu-se de toda a culpa, antes que dela pudessem germinar as sementes da incerteza e retirou o dinheiro do vão entre a cueca e a calça surrada. Apaziguou-se por um período antes de ceder lugar a cólera evasiva e aos deleites infrutíferos dos argumentos impróprios. Em seguida, por conseqüência, protestou com o punho fechado e erguido ao alto e urrou palavrões heréticos, como um político exaltando suas mais sinceras qualidades, se é que havia alguma; "Quanto mais trabalho, mais me cobrem a cuca de merda! Por quatro contos de Réis eu vejo até o fim do mundo!", mas, por fim absteve-se da culpa e entregou o dinheiro ao dono do circo, com certa relutância, mas com o coração transbordando de felicidade ao notar o semblante despretensioso e alegre do filho.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">O leque de atrações era mais diversificado do que ambos supunham; acrobatas, palhaços, aberrações, piratas usurpadores de tesouros, elefantes, zebras, galos de briga, pulgas adestradas, mágicos, equilibristas, anões em pernas de pau, engolidores de fogo e espadas, um faquir vindo da índia que dizia ostentar os segredos mais obscuros da cultura do fim do mundo, um atirador de facas que punha a prova suas habilidades no manejo dos metais afiados usando uma bexiga de festas presa a boca da própria filha como alvo, e macacos. Muitos macacos. De diversos tipos, de diversos tamanhos, de diversas índoles, cada qual ocupando um espaço vazio do picadeiro, ente cambalhotas e movimentos desajeitados. Antônio Apolinário não se lembrara, mesmo nos dias mais delirantes de sua longa e produtiva vida, de um momento em que se sentira tão pleno e perfeitamente realizado como aquele.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Aventuraram-se pela cela da mulher barbada, que para surpresa e deleite de ambos, não era tão barbada assim, visto que Tio Apolinário já padecera de males capilares piores. Tão pouco se impressionaram com Guillermo Garcia, cuspidor de fogo e artesão nos momentos de ócio, donde tirava o sustento de duas raparigas menores e da esposa, Ofélia, cujas ancas padeciam de um mal súbito que médico algum conseguia diagnosticar, desde a tenra idade dos dezessete, quando ainda moça desfez-se de todos os compromissos firmados junto a família e se aventurara a viver junto ao amante, a vida boêmia, quase boçal e deverás irresponsável, dos ciganos proscritos. Havia de voltar a sua terra natal assim que fosse excomungada de vez a notória sensação de infelicidade pessoal que julgava guardar consigo, na medida em que as lembranças lhe afloravam a pele. E foi ela que sorriu, pela primeira vez, ao trocar olhares obscenos com o pobre e inocente Antônio Apolinário, ao passo que atravessavam a cela vazia da qual se ocupava tão veemente em limpar. “O que faz um garoto da pele azul fora da jaula?” Questionou-se ao marido com tal ênfase que foi quase possível ouvi-la em meio aos murmúrios inconscientes dos outros espectadores. “Porra! E não é que tens razão?!” Dissera o marido, genuinamente impressionado. Antônio Apolinário, que até então não se dara conta da própria tez de aspecto particularmente curioso, viu-se em estado de graça e desgraça, ambos convivendo consigo em perfeita harmonia e desafeto quase que simultâneos. Viu-se como num reflexo, de modo distorcido e irreal, subjugado pela cor estranha da pele que poucos sabiam ser motivada pelo nitrato de prata coloidal, ministrado por diversas e errôneas vezes quando este ainda era muito jovem, com o devido consenso dos pais e o intuito desesperado de dar cabo de uma misteriosa enfermidade que o assolava desde o berço.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Riram e caçoaram do pobre Antônio Apolinário Fizeram chacota, inferiorizando-o mais do que qualquer aberração de circo que já se prontificara a ser inferiorizada. Fazia-se audível há léguas de distância o relinchar dos cavalos, a algazarra dos macacos, os sorrisos desmedidos e ainda desprovidos do mínimo indício de amor próprio que seja das outras aberrações. Tamanho era o disparate que as gêmeas siamesas se prontificavam a revezar, dividindo por igual o ar que lhe adentrava aos pulmões, rindo feito velhas loucas padecendo no auge da insanidade. O engolidor de fogo, por sua vez, limitou-se a segurar o riso que se formava de pronto, antes que este lhe queimasse os poucos pelos do bigode e da barba já rala e sapecada pelo fogo.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; orphans: 0; text-indent: 1.25cm; widows: 0;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Tal reação ao transmutar-se como mágica de espectador à personagem principal, nutrira em Antônio Apolinário todo tipo de sentimento negativo que mente humana é capaz de instigar. Sensações abruptas que se ramificaram, percorrendo seu corpo, inundando as entranhas do próprio coração com a maldade que transbordava-lhe pelos poros, feito um vulcão adormecido entrando em erupção. Quis sair dali. Quis transpor as barreiras quase naturais das tendas decrépitas corroídas pelas traças e refugiar-se em meio a plantação de mandioca, defender-se em toda a magnitude da pouca honra que ainda lhe era possível, com o cabo torto da enxada. Aceitaria o fato concluso de ser rebaixado ao mais ínfimo ser ali, perante pessoas de péssimo grado e cujos talentos beiravam a precariedade, porém em seu habitat natural se sentiria seguro o suficiente para revidar se fosse necessário. Não foi. Pai Apolinário interveio, como era de praxe, tomando as dores do filho magoado. "Ainda há de nascer o cabra da peste que vai cagar num filho meu na minha frente!". E com essas palavras proféticas, oriundas do mais intimo de seu ser, Pai Apolinário deu cabo, sem qualquer resquício de arrependimento ou mesmo culpa, de dois anões, três zebras, um cavalo, dois engolidores de fogo, um faquir, duzentas pulgas, sete macacos, cinco piratas, um equilibrista, doze galos de briga, uma mulher barbada, um engolidor de fogo, duas gêmeas siamesas e um acrobata. Salvaram-se apenas os palhaços, devido a boa graça de seu filho Antônio Apolinário e os mágicos, que se prontificaram a demonstrar suas incríveis e enigmáticas habilidades profissionais, desaparecendo na melhor parte do espetáculo.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; orphans: 0; text-indent: 1.25cm; widows: 0;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></span></div><div class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; orphans: 0; text-align: center; text-indent: 1.25cm; widows: 0;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;"><b>FIM</b></span></span></div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4553405352728329918.post-13058812814688513682011-03-17T09:25:00.000-07:002011-03-20T11:22:51.810-07:00<div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="295" src="http://www.youtube.com/embed/BCC7rFxo6QA?fs=1" width="480"></iframe></div><br />
<div style="text-align: justify;"> <b><i> </i></b><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><b><i>"This side up"</i></b> é uma animação muito divertida do animador <a href="http://www.lirontopaz.com/"><b><i>Liron Topaz</i></b></a> que conta a verdadeira aventura de um recém agregado ao mundo virtual, que graças a sua <i>"inexperiência"</i> acaba se atrapalhando um pouco. Esse (e outros curtas tão divertidos quanto) poderão ser conferidos no <a href="http://eruditopelonaoditoueg.blogspot.com/p/falando-serio.html"><b><i>1º Encontro de Quadrinhos da UEG</i></b></a>, em breve.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4553405352728329918.post-57438294923266804242011-03-06T18:27:00.000-08:002011-03-15T14:38:38.149-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://versodoavesso.blogspot.com/2011/03/n.html#more"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcMcwLfV747RZjz3FcYWbfWxVNfiYuutKEeTflBrmqIF4l2z60jMOltn73imJb4Mf7uUSA-t8MVPzyBzaTNAg2cS6qjzp-leEFUHyEKrsunZV4OoCpFZCbjt3d2_kcVPVYuEyasXkz78-q/s1600/N..jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><a name='more'></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"> <b>"N." </b>é uma espécie de <i>mini-mini-série</i> feita para celulares, em parceria com Scribner, Simon & Schuster Digital, Marvel Entertainment e CBS Mobile, escrita pelo mestre do terror <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Stephen_King"><b>Stephen King</b></a> (que também virou um conto no livro ainda inédito por aqui, chamado <i><b>"Just after sunset"</b></i>, que tem previsão para lançamento no Brasil no final de 2011). São 25 vídeos no total, de 1 minuto cada, que narram a história de um psiquiatra que comete suicídio e sua irmã acredita que tudo se deve ao envolvimento dele com um misterioso paciente chamado apenas de<b> "N."</b> Qual será a verdade por trás desse mistério?</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"> Em parceria com membros da comunidade <a href="http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=71769"><b>Stephen King Brasil</b></a>, estamos trabalhando na tradução e legenda dos episódios que não estão originalmente disponíveis em português. Segue abaixo os já traduzidos. A medida em que os episódios forem saindo vamos postando por aqui. Para aqueles que gostam do gênero é um prato cheio. Uma história repleta de suspense e mistério, como só o mestre do terror moderno poderia nos proporcionar.</div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/DWMsREH_vVw?fs=1" width="510"></iframe></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/9CAYPk_8iks?fs=1" width="510"></iframe></div><br />
<div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/joRP4VGkUfM?fs=1" width="510"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/LC8gc8p5lOc?fs=1" width="510"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/8D4MGPoJDuY?fs=1" width="510"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/a3dSR4ue3rU?fs=1" width="510"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/6AZCM-RGlwk?fs=1" width="510"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/qpxhmAZis2Y?fs=1" width="510"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/_036SpHyzjU?fs=1" width="510"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/BXLPpBtq6Jg?fs=1" width="510"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/qZBlIdQJjg0?fs=1" width="510"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/HrcKj2Xz2N0?fs=1" width="510"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/sYgXIuFr_BM?fs=1" width="510"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/faHsmhSL_VI?fs=1" width="510"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/7DI0hYgL-W4?fs=1" width="510"></iframe></div><br />
<div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/B0gKdpRW0ms?fs=1" width="510"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/48pN4bLnqI4?fs=1" width="510"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/ICLHQStyOYM?fs=1" width="510"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/dhp2JuDwD4c?fs=1" width="510"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/eFHz7q52mBs?fs=1" width="480"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/6GdgAEn-gIs?fs=1" width="510"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/xO9QQ0AP_Bo?fs=1" width="480"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/nPMEgYXXVR4?fs=1" width="480"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/_9YS8Eo8boI?fs=1" width="510"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="325" src="http://www.youtube.com/embed/OhK-6xgA-tk?fs=1" width="510"></iframe></div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4553405352728329918.post-81353008733947501702011-03-01T07:32:00.001-08:002011-03-17T15:18:18.377-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://eruditopelonaoditoueg.blogspot.com/p/falando-serio.html"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHpRLE_Rl88uRxZzSDYIZz4nNPTEbkYeD5g-orMAHUd6wrA7M5xeNjKCkd3j4BwUP72hS-6RRUSvbHj6S8_iVjpup8el9lN2JoFEYnlMUcxFIrZAfmrVHYKWbu-_0tCWHnRa2XdsLKDx84/s1600/1encontro.jpg" /></a></div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4553405352728329918.post-11026703382869364852011-02-28T15:56:00.000-08:002011-02-28T15:56:34.506-08:00LINGUAGEM DO AMOR<center><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="309" src="http://www.youtube.com/embed/Hit3J0GZOz4" title="YouTube video player" width="520"></iframe></center>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-4553405352728329918.post-90261508519965195532011-02-28T00:15:00.000-08:002011-03-17T15:25:07.473-07:00Trote com a CALOURADA de 2011!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='420' height='366' src='https://www.youtube.com/embed/Zlav1GpLNnA?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4553405352728329918.post-69427299474205326662011-02-27T07:12:00.000-08:002011-02-27T07:13:51.136-08:00Nota de falecimento - Moacyr Scliar<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGgtmR9Kki5hb2O_GQZxntwAjrEQvZ-dmYeQZVa_xabXIPNaD8OLe22OtfLJ_ZHrRjp5r32a3wtIXs_93GcdfCKJ31AZPyALeQd5v_a1pL2AUPjIcD2G2QHxvBZZi5or_XPny5k5qzb2MD/s1600/MoacyrScliar1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGgtmR9Kki5hb2O_GQZxntwAjrEQvZ-dmYeQZVa_xabXIPNaD8OLe22OtfLJ_ZHrRjp5r32a3wtIXs_93GcdfCKJ31AZPyALeQd5v_a1pL2AUPjIcD2G2QHxvBZZi5or_XPny5k5qzb2MD/s400/MoacyrScliar1.jpg" width="397" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><a name='more'></a><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> É com muito pesar que publicamos esse post, pois a partir de hoje outro grande nome da literatura brasileira nos deixou. <span class="Apple-style-span" style="color: #362b36; font-size: 13px;">Moacyr Scliar foi o sétimo ocupante da 31º cadeira da Academia Brasileira de Letras (</span><span class="Apple-style-span" style="font-size: 13px; line-height: 19px;">eleito em <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/31_de_julho" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: initial; background-image: none; background-origin: initial; text-decoration: none;">31 de julho</a> de <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/2003" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: initial; background-image: none; background-origin: initial; text-decoration: none;">2003</a>, na sucessão de <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Geraldo_Fran%C3%A7a_de_Lima" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: initial; background-image: none; background-origin: initial; text-decoration: none;">Geraldo França de Lima</a>). Formado</span><span class="Apple-style-span" style="font-size: 13px; line-height: 19px;"> pela <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_Federal_do_Rio_Grande_do_Sul" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: initial; background-image: none; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #0645ad; text-decoration: underline;">Universidade Federal do Rio Grande do Sul</a>, </span><span class="Apple-style-span" style="color: #362b36; font-size: x-small;"> </span><span class="Apple-style-span" style="color: #362b36; font-size: 13px;">Scliar</span><span class="Apple-style-span" style="color: #362b36; font-size: 13px;"> também foi médico e </span><span class="Apple-style-span" style="font-size: 13px; line-height: 19px;">doutor em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública, além de atuar como </span><span class="Apple-style-span" style="font-size: 13px; line-height: 19px;">professor na faculdade de medicina da <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_Federal_de_Ci%C3%AAncias_da_Sa%C3%BAde_de_Porto_Alegre" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: initial; background-image: none; background-origin: initial; color: #0645ad; text-decoration: none;">Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre</a> (<a class="mw-redirect" href="http://pt.wikipedia.org/wiki/UFCSPA" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: initial; background-image: none; background-origin: initial; color: #0645ad; text-decoration: none;" title="UFCSPA">UFCSPA</a>). Scliar faleceu hoje (27/02/2011) por volta das 01:00 Hrs, de falência multipla dos orgãos, aos 73 anos.</span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 13px; line-height: 19px;"><br />
</span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #362b36; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 19px;"></span></span></div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4553405352728329918.post-56416396222479973302011-02-25T09:58:00.000-08:002011-02-25T10:01:08.884-08:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://versodoavesso.blogspot.com/2011/02/conto-originalmente-publicado-na.html"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6qfFYJ0QQeRarGeMeQXymQ5F-W1lln3wn6rXB7N9ecHfNv-KhDsWEqEIPpfxe1gZSj6RbmPthJHZdHNkLFuHW6nsoPGEReeuzyT4uvQojpd4ZBLCwGh4CAXGLEdxCe0ohSAjVZKDOlo30/s1600/BANNEROLHOS.jpg" /></a></div><a name='more'></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Conto originalmente publicado na coletânea<span class="Apple-style-span" style="color: #990000;"> <a href="http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=11032334&sid=1872227941231804422941581&k5=20F5208B&uid"><b><span class="Apple-style-span" style="color: #990000;">"O Grimoire dos vampiros"</span></b></a></span> da <b><i>Editora Literata</i></b>.</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">Leitos de hospitais geralmente são lugares tristes durante o dia. A noite essa tristeza se intensifica, solidificando-se nas paredes recobertas de limo, no teto mal iluminado pelas lâmpadas fluorescentes, na camada de tinta que escapa das paredes. Fiz essa pequena constatação pessoal quando passei três dias e três noites inteiras, devidamente hospitalizado, graças a um calculo renal de aproximadamente dois milímetros, semelhante a um grão de arroz alojado em meus rins. Dizem que a dor do parto é uma das maiores dores que o ser humano pode sentir. </span><span style="font-size: small;"><i>Besteira!</i></span><span style="font-size: small;"> Passei dois anos nutrindo esse </span><span style="font-size: small;"><i>“filho bastardo”</i></span><span style="font-size: small;"> em meu </span><span style="font-size: small;"><i>“ventre”, </i></span><span style="font-size: small;">e no fim me vi obrigado a expulsa-lo já em fase adulta. Cinco milímetros em forma de uma pequena pedra pontuda, formada basicamente de oxalato de cálcio e acido úrico. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;"> O fato é que durante aqueles três dias em que passei acordado, me virando interminavelmente sobre os lençóis novos, recém estirados, recebi basicamente duas visitas. Uma delas, é claro, era minha mãe. Chegava as dez e saia pontualmente as doze, quando terminava o horário matinal de visitas. Trazia meu almoço e enquanto me alimentava ela checava com cuidado os curativos provocados em meu punho esquerdo pela mão desajeitada de uma enfermeira descuidada. Minha mãe era uma boa pessoa e agradeço a Deus por ela. Mas o fato é que sempre tive medo do tempo e do que ele poderia fazer comigo. Mais ainda, do que ele poderia fazer com ela. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">Fui testemunha ocular do quanto o tempo pode ser cruel logo no primeiro dia de internação no hospital Santa Maria, naquele inverno de 1967. O homem era um senhor já de idade. Tinha no rosto um aspecto cansado, com profundas olheiras marrons rodeando seus olhos. A pele flácida, repuxada drasticamente para baixo, formando uma papada enorme e disforme logo abaixo do queixo. As costas arqueadas e o andar lento, vagaroso. Estava acompanhado por uma garota extremamente bonita, que o ajudava a carregar o suporte metálico do soro. Seus olhos eram tão verdes e brilhantes quanto duas bolinhas de gude. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Por aqui senhor. – Disse educadamente a outra mulher, que entrou no quarto logo em seguida, tomando a frente e indicando uma das camas ao meu lado. Usava um grande jaleco branco, que descia pelos contornos magros de seu corpo, quase até os joelhos. Seu rosto parecia tão cansado quanto o do senhor de idade, mas ela conseguia (ou pensava que conseguia) esconder isso muito bem com o blush e o pó compacto, espalhado pelo rosto como massa corrida em uma parede esburacada.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Tem certeza de que vai ficar bem vovô? - Perguntou a garota dos olhos de bolas de gude. O velho balbuciou algo inaudível e se deitou, cruzando as pernas e os braços, encolhendo o corpo de lado em posição fetal. A mulher de jaleco o ajudou a tirar os sapatos e as meias, largando-os ao pé da cama após notar com crescente interesse a camada marrom de sujeira, semelhante à marca deixada em suas roupas intimas após uma incursão mal sucedida ao mundo da higiene pessoal.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">- O horário de visitas é das dez as doze – Nesse ponto a voz da enfermeira oscilou, </span><span style="font-size: small;"><i>e por Deus...</i></span><span style="font-size: small;"> Que todos os santos me perdoem, mas eu juro que senti uma pontada de prazer despontar de seus lábios.</span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">A garota corou e procurou, provavelmente nos recantos mais profundos de sua mente, se lembrar de como deveria ser um sorriso sincero. Tentou reproduzi-lo com o máximo possível de fidelidade, mas o que conseguiu foi apenas um ligeiro entreabrir de lábios.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">Alguns minutos depois a enfermeira saiu, deixando o senhor de idade aos cuidados da garota dos olhos de bolas de gude. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- O que ele tem? – Perguntou minha mãe, rompendo o silêncio monótono do quarto.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">- Alzheimer... – Disse ela. O tom parecia inarticulado, sussurrando as palavras, espalhando-as pelo quarto com o temor carregado na voz. Uma furtiva lagrima passeou por sobre suas bochechas.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">Com o passar do tempo as visitas de ambas tornaram-se menos freqüentes. O leito do hospital tornou-se mais vazio. Cerca de uma semana depois o avô da garota dos olhos de bolas de gude e eu recebemos a segunda visita da qual falei no inicio desse relato. Não citei nomes pois não me atrevi a nomeá-lo, tamanho fora o terror que se alojara em minha mente. Mas se for necessário fazê-lo, prefiro chamá-lo de </span><span style="font-size: small;"><i>“O homem dos olhos vermelhos”,</i></span><span style="font-size: small;"> mesmo sabendo, inconscientemente, que a criatura que nos visitara aquela noite era tudo, menos humana.</span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">A lua cheia despontava no céu, grande e redonda, ofuscando parcialmente o brilho das estrelas. As persianas, como sempre, estavam abertas, e pequenas tiras de luminosidade se atreviam a invadir a escuridão parcial do quarto. Assim como nas outras noites, eu não conseguira pegar no sono. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;">Já passava das duas da madrugada quando a porta do quarto foi aberta. Um frio cortante pareceu inundar o quarto, de repente, antes que eu me desse conta de que o vulto parado em frente a porta não era o da enfermeira. Seus contornos eram másculos e bem definidos. </span> </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">O homem de jaleco moveu-se, sentando-se com cuidado no mesmo banco de madeira que a garota dos olhos de bolas de gude sentara apenas alguns dias atrás, deixando que um pequeno feixe de luminosidade que atravessara a persiana iluminasse parcialmente seu rosto. Fora apenas por uma fração de segundos, mas eu vi. O sangue de meu corpo gelou por completo. O olhos do homem de jaleco eram vermelhos, como brasas retiradas das profundezas do inferno. Fitavam o velho com alucinado interesse, enquanto pareciam queimar viva e dolorosamente sobre seu rosto.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-size: small;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 150%;">Pensei em levantar e fugir. Correr. Me esconder em qualquer lugar onde o<i> homem dos olhos vermelhos</i> jamais poderia me encontrar, mas o medo me paralisou. O senhor do destino, que no final sempre comanda nossas ações, me fez permanecer ali, de olhos arregalados, fitando os contornos demoníacos do homem dos olhos vermelhos, enquanto sua cabeça se inclinava ameaçadoramente em direção ao velho. Suas mãos de dedos finos e longos tinham garras nas pontas. A pele dos dedos era flácida, enrugada e cinza, semelhante a pele em decomposição de um cadáver. Abraçou o punho do velho com seus dedos mortos e removeu com cuidado a agulha. Elevou-o até a boca, envolvendo o pequeno orifício provocado pela agulha com seus lábios ressecados e cinzas. O que se seguiu posteriormente fora um verdadeiro teatro de horrores. Eu podia ver o sangue fluindo nas veias do velho, indo de encontro aos lábios mortos do demônio de olhos vermelhos. Uma pequena poça de sangue se formou ao pé da cama, e quando pensei que o demônio dos olhos vermelhos havia terminado, algo mais aconteceu. Ele abaixou-se, inclinando seu corpo em um movimento humanamente impossível, sem dobrar os joelhos, até o chão. Uma enorme corcunda apareceu em suas costas e o jaleco de doutor que usava tornou-se pequeno, revelando uma massa de ossos magros, visivelmente desproporcionais, grudados a pele morta. Uma coisa grotesca e disforme, que jamais ousarei chamar de língua, saiu do interior de sua boca, contornando o ar em movimentos delicados e ao mesmo tempo </span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 24px;">horríveis</span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 150%;">, como uma cobra manipulada por um encantador de serpentes, e lambeu o chão. Seus olhos brilharam novamente, com o fogo oriundo das profundezas do inferno, e por um momento apenas me encararam, como se dissessem: </span></span></span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small; line-height: 150%;"><i><b>“Você é o próximo.”</b></i></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Mas eu não fui o próximo. Ao menos não naquela noite. O demônio dos olhos vermelhos se levantou, satisfeito, virou as costas e saiu, largando o velho morto atrás de si.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;">Muitos anos se passaram desde o acontecido. Na época tinha apenas dezoito anos e toda uma vida pela frente. Uma vida que ficaria marcada para sempre pela presença do demônio dos olhos vermelhos, durante uma noite escura, num leito frio e solitário de hospital. Hoje tenho noventa e dois anos e me encontro deitado no mesmo leito. Esqueci-me do gosto da comida que minha mãe preparava, do rosto da garota, mas do demônio dos olhos vermelhos eu jamais me esqueci. É o mesmo que se encontra parado agora, na porta do quarto, me observando com curiosa atenção.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div align="CENTER" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><b>FIM</b></span></div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4553405352728329918.post-66701287885847067112011-01-25T07:27:00.000-08:002011-01-25T07:28:51.236-08:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://versodoavesso.blogspot.com/2011/01/gabriel-garcia-marquez-e-um-autor.html#more"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheDmAnQynfbjkvLAptV-sTLIkfoleZ3C_so711czcZgeVAdmN1rlDY2dIJrCnZ5cpx8DQPSCXyBVrWaJ6Ks59qxE-dBdqOWfpcSeKuyGEyZdb75sP8yknGt4gZ2-_KewFoB6e9TCgFzJbT/s1600/bannergabriel.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><a name='more'></a><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"> <span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><b>Gabriel García Márquez</b> é um autor Colombiano nascido em <i>Aracataca</i> em 6 de março de 1927. Além de escritor também trabalhou como editor, jornalista e ativista politico. É um dos nomes mais importantes para a literatura latino-americana, com seus livros que exploram o mundo do realismo mágico (criado por ele mesmo) de maneira nua, crua, com pitadas românticas e por que não dizer, muitas vezes <i>Obscuras?</i></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOzXuifxNjREX0qgA5y0YWEb0U53kbHFRZJUaS7v8rtNOKG2TGOygzKMh_mIaiayjMvxsyz8BMdijvb9_qq04N9vuJXpNW_IAX2Hq_T9Kln5RVru7so4X2WYRDD3usG_otuVz6QEQ2xqy7/s1600/cemanos.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOzXuifxNjREX0qgA5y0YWEb0U53kbHFRZJUaS7v8rtNOKG2TGOygzKMh_mIaiayjMvxsyz8BMdijvb9_qq04N9vuJXpNW_IAX2Hq_T9Kln5RVru7so4X2WYRDD3usG_otuVz6QEQ2xqy7/s320/cemanos.png" width="294" /></a></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"> <span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><i>"Cem anos de solidão"</i> é o seu romance mais conhecido. Aclamado pela critica e publico como o segundo maior romance de todos os tempos em língua hispânica, ficando atrás apenas de <i>"Dom Quixote"</i>, apresenta a historia centenária e fascinante da estirpe dos <i>Buendia</i>, uma família que fundou e vive em uma remota aldeia (não menos fantástica) chamada <i>Macondo</i>. A primeira geração é formada por <i>José Arcadio Buendía</i> e <i>Úrsula Iguarán</i>. É deles que partem as ramificações familiares que fazem de <i>"cem nos de solidão"</i> um épico literário, reconhecido e aclamado pela critica e publico, tanto que foi depois dele que García Márquez foi agraciado com o premio nobel de literatura. Porém, nem só de <i>"solidão"</i> vive o homem que deu vida a <i>Macondo</i>.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3yMpn1nzEIfxvHvFfhnNMea5a7cOMMaRZ4jVeT1zr9G_zpYxy2adtc3TfoG7pYXtiO5xel5zhhmxXQZ5Otk-cUcOa-7X5M2wPfrGLRVCT9ayBtMl7zGyRSamOKD8Uarp8S-181CCQtcMe/s1600/oamor.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3yMpn1nzEIfxvHvFfhnNMea5a7cOMMaRZ4jVeT1zr9G_zpYxy2adtc3TfoG7pYXtiO5xel5zhhmxXQZ5Otk-cUcOa-7X5M2wPfrGLRVCT9ayBtMl7zGyRSamOKD8Uarp8S-181CCQtcMe/s1600/oamor.png" /></a></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"> <i> </i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><i>"O amor nos tempos do cólera"</i> é outro reconhecido romance seu. Narra a historia de amor arrebatador de um homem, <i>Florentino Ariza</i>, por uma mulher, <i>Fermina Daza</i>, que ultrapassa mais de cinquenta anos (mais precisamente, 51 anos, nove meses e 4 dias) sem quase nenhum contato, porém cresce mais a cada sopro de vida desperdiçado de Florentino sem sua amada. O amor é um tema corriqueiro nos livros de García Márquez, que admitiu ter se inspirado na historia dos seus pais para dar vida ao romance entre Florentino e Fermina.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMCaRcRzx1PvB2vh1mVyfvjWm9xYK7PK4pExlxv4yIF2WO0rKLoz78wG_2L4TPINIBcfhz71g-YTBJRfJyPmyu496vr-6aBJ3_O2vLHDx0DehwZVeJHEFlOXMDhF3GXmyIzuFm2a_xalns/s1600/memorias.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMCaRcRzx1PvB2vh1mVyfvjWm9xYK7PK4pExlxv4yIF2WO0rKLoz78wG_2L4TPINIBcfhz71g-YTBJRfJyPmyu496vr-6aBJ3_O2vLHDx0DehwZVeJHEFlOXMDhF3GXmyIzuFm2a_xalns/s1600/memorias.png" /></a></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"> <span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><i>"No ano de meus noventa anos quis me dar de presente uma noite de amor louco com uma adolescente virgem." </i>Assim tem inicio um dos trabalhos mais recentes de García Márquez. <i>“Memórias de minhas putas tristes"</i> conta a historia de um cronista e critico musical que decide, no seu aniversário de noventa anos, dar um presente a si mesmo e ir para a cama com uma garota virgem. Acontece que ao ver a garota dormindo não tem coragem de acordá-la e acaba se apaixonando por ela. É um romance curto, que em poucas páginas resume a fragilidade do ser humano diante da ação do tempo e do medo do amor.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEUMNrSkaOQrblE9y6F0Q-M0YtTAmuArygBZHf9fgQOmPtiaYeY9E758-ofTvC0GjVaaI6iqc7OiEgdVo8wPlvuUmp7Lf0P0mLyHukGcUwcAocrUXiZ6fhbUjYn3izBmgCO2NISczLHnR7/s1600/cronica.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEUMNrSkaOQrblE9y6F0Q-M0YtTAmuArygBZHf9fgQOmPtiaYeY9E758-ofTvC0GjVaaI6iqc7OiEgdVo8wPlvuUmp7Lf0P0mLyHukGcUwcAocrUXiZ6fhbUjYn3izBmgCO2NISczLHnR7/s1600/cronica.png" /></a></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"> <span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Já a historia de <i>"crônica de uma morte anunciada"</i> não gira em torno de um amor não correspondido ou de um mundo fantástico onde habitam ciganos misteriosos. Ao invés disso, nesse romance nos deparamos com a crueldade de um assassinato premeditado, como intuito de honrar o nome de uma irmã desonrada. O assassinos são os gêmeos Pedro e Pablo Vicário. A vitima é Santiago Nasar, que até o ultimo momento mal se dava conta do cruel destino que o aguardava. Ao leitor a historia é apresentada por um narrador onisciente em forma de uma reconstrução jornalística romanceada dos fatos, onde o mistério consiste em descobrir quem desonrou Ângela Vicário, que mente, provavelmente para proteger a real identidade do causador de tão trágicos acontecimentos.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
<br />
</div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Outras obras do autor:</span></b></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
<ul><li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">O enterro do diabo: A revoada (La Hojarasca) (1955)</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Memória dos prazeres</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Relato de um náufrago</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">A sesta de terça-feira</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Ninguém escreve ao coronel (1961)</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Os funerais da mamãe grande</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Má hora: o veneno da madrugada</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">A última viagem do navio fantasma</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Entre amigos</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">A incrível e triste história de Cândida Eréndira e sua avó desalmada</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Um senhor muito velho com umas asas enormes</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Olhos de cão azul</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">O outono do Patriarca</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Como contar um conto (1947-1972)</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Textos do caribe</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Cheiro de goiaba</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">O verão feliz da senhora Forbes</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">A aventura de Miguel Littín Clandestino no Chile</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">O general em seu labirinto</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Doze contos peregrinos (1992)</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Do amor e outros demônios (1994)</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Notícia de um sequestro</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Obra periodística 1: Textos Andinos</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Obra periodística 3: Da Europa e América</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Viver para contar</span></li>
<li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Obra Jornalística 5: Crónicas, 1961-1984</span></li>
</ul></div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4553405352728329918.post-53447860278898590982011-01-24T18:39:00.000-08:002011-01-25T06:36:02.051-08:00"If You Forget Me" - Pablo Neruda<span style="font-family: 'trebuchet ms';"><span style="font-size: 100%;">Meu poema </span>preferido, traduzido do Inglês para o Português. </span><span style="font-family: 'trebuchet ms';">Recitado por Madonna ao som de </span><span style="font-family: 'trebuchet ms'; font-style: italic;">Frozen (Instrumental) e </span><span style="font-family: 'trebuchet ms';">mixado por @</span><a href="http://twitter.com/#%21/BorgesVinicius" style="font-family: trebuchet ms;">BorgesVinicius</a><br />
<br />
<div style="font-family: trebuchet ms; text-align: center;"><embed allowfullscreen="true" allowscriptaccess="always" height="250" src="http://www.4shared.com/embed/489620763/a9f1ffbe" width="420"></embed><br />
<br />
</div><div align="center" class="MsoNormal" style="font-family: trebuchet ms; text-align: center;"><b><i>"Se você me esquecer"</i> (<i>If you forget me</i>) – Pablo Neruda</b></div><div align="center" class="MsoNormal" style="font-family: trebuchet ms; text-align: center;"><b></b><br />
<a name='more'></a><b><br />
</b></div><div align="center" class="MsoNormal" style="font-family: trebuchet ms; text-align: center;"><b> </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Quero que você saiba de uma coisa.</span></div><div class="MsoNormal" face="trebuchet ms"></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Você sabe como é:</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">se eu olhar</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">para a lua cristalina, nos ramos avermelhados</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">do lento outono na minha janela,</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">se eu tocar</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">perto do fogo</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">as impalpáveis cinzas</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">ou o enrugado tronco de uma árvore,</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">tudo me leva a você,</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">como se tudo o que existe:</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">aromas, luz, metais,</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">fossem pequenos barcos que velejam</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">em direção às suas ilhas que esperam por mim.</span></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span><br />
<div class="MsoNormal"></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Bem, agora,</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">se pouco a pouco você deixar de me amar</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">eu deixarei de te amar pouco a pouco.</span></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span><br />
<div class="MsoNormal"></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Se de repente</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">você me esquecer</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">não procure por mim,</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">pois já terei te esquecido.</span></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span><br />
<div class="MsoNormal"></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Se você achar que é extenso e raivoso,</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">o vento das velas</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">que passa por minha vida,</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">e decidir</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">me abandonar à margem</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">do coração onde eu tenho raízes,</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">lembre-se</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">que neste dia,</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">nesta hora,</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">eu levantarei meus braços</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">e minhas raízes sairão</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">para buscar outra terra.</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Mas</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">se a cada dia,</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">a cada hora,</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">você sentir que é destinado a mim</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">com implacável doçura,</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">se a cada dia uma flor</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">subir aos seus lábios à minha procura,</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">ah, meu amor, ah meu bem,</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">em mim todo aquele fogo reacende,</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">em mim nada é extinto ou esquecido,</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">meu amor se alimenta do seu amor, amado,</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">e enquanto você viver ele estará em seus braços</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">sem deixar os meus.</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></div>Vinicius Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/08356176139965602940noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4553405352728329918.post-91021193822319606722011-01-23T16:40:00.000-08:002011-01-23T16:40:53.716-08:00EGEL 2010: Porque recordar é viver.<div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="youtube-player" frameborder="0" height="390" src="http://www.youtube.com/embed/KugAsOMNryg" title="YouTube video player" type="text/html" width="480"></iframe></div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4553405352728329918.post-39739110181473338092011-01-22T15:55:00.000-08:002011-01-22T16:21:02.562-08:00Brincando de escrever...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://versodoavesso.blogspot.com/2011/01/brincando-de-escrever.html#more"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhbwOOTr3dpXxPFmd9scbYgvmFU1-D8Li-_JH5Ovr3VDpUX0RZsMEcMGCrYb7npCeufuEAi2uIA6jZ3lesO_5me1d99sQ1o69N_hW5ETSgd1kmYdDWwwfnzv1jKrhgGwlizKQewjyakXCk/s1600/bannerconto.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><br />
<a name='more'></a><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"> </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Fim de ano. Novas promessas e velhas tentações. Já passava das duas da madrugada, quando Antonieta veio a mim, procurar pelo então bom moço que deixara para trás as luzes da ribalta na praça de San Antônio e se resguardara em seu apartamento decrepito e igualmente sombrio. Bateu-me à porta com a mesma ânsia intuitiva de um cobrador de impostos insensível, com os nós dos dedos estalando ruidosamente por sobre a madeira velha, carcomida pelas traças.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Gardênio, abra! é Antonieta.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><i> “Entre”</i> - Convidei-a, meio sem jeito e vontade, a aproximar-se. Seus olhos, resguardados pelas cavidades oculares exageradamente profundas e acinzentadas, eram a mais pura expressão de monótono cansaço matinal. Notando com característico desdém a falta de esmero do recinto, lançou-me de relance um olhar fulminante, que tencionava dizer mais do que as palavras seriam capazes de fazê-lo.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><i> “Um pouco de sobriedade faria bem.”</i> - Disse ela, me fitando com seus olhos duros, impenetráveis.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><i> “Não quero ser sóbrio Não preciso ser sóbrio A sobriedade faz das pessoas idiotas.”</i> - Respondi, relutante. Me apegava as mais ínfimas lembranças de um passado remoto e quase esquecido com o mesmo ardor de um náufrago prestes a ser resgatado.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “E a falta dela as transforma em canalhas.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Que seja. Antes um canalha bêbado do que um idiota sóbrio.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Sinto-me inclinada a discordar.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Sua opinião é irrelevante. Vinho?”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Não, obrigado. Bem sabes que não posso. A proposito, quantas taças já bebeste?”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Perdi a conta depois da oitava.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Justine não vai gostar nem um pouco de vê-lo nesse estado.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Ui... La vérité! Que Justine vá a merda! De hipócritas já me bastam os cobradores de impostos. Sanguessugas de uma figa.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Ela gosta de você.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Você também. Nem por isso tenciona me por um cabresto e me levar pra pastar.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Não foi em você que o cabresto foi posto. E ela gosta mesmo de você.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “A reciproca é, verdadeira, acredite. Mas ambos sabemos que isso é igualmente irrelevante. Já amei por demais. Não há mais espaço nesse coração cansado para os transmites legais de uma nova paixão.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Hora vamos… Deixe de besteiras! Ande, levante-se! Tome um banho e venha passear comigo.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Com mil perdões, minha dama das camélias, mas daqui não saio nem carregado por uma tribo de canibais selvagens.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Quanta pompa, dramatismo em excesso. Seria comovente, se não fosse patético.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><i> “Patético ou não, encontro-me temporariamente indisponível. Fechado para balanço, meu bem.” </i>- Nisso um movimento brusco de braço quase leva a pobre Antonieta a nocaute. – <i>“Perdão. Lamento por isso também.”</i></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Passaste a noite aqui? Se esbaldando de vinho barato?”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Também. Se há algo relativamente novo em minha concepção com relação ao conteúdo etílico em questão, é que não existe vinho barato. No fim, todos servem ao mesmo proposito.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Torná-lo cafajeste?”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Exato. O absinto também teve sua parcela de culpa no processo, mas, como vê, acabou relativamente cedo.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Fala do conteúdo esverdeado nessa garrafa?”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Sim senhora.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Aquilo não era absinto.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Não?”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Não.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Observei-a, inspecionando cada intimo recanto de sua tez exageradamente feminina. Os contornos dos seus lábios, delicados e bem delineados, exalavam sensualidade. Seu nariz afinalado, ligeiramente empinado, e sua pele semelhante a textura de pêssegos recém-colhidos usufruíam da calidez pálida dos amores não correspondidos. Assim era Antonieta. Respirava sensualidade e instigava os homens, mesmo que inconsciente de que o fazia, a jamais reprimirem seus instintos primários e por consequência, selvagens. </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><i> “Sinto sua falta.”</i> – Confessei, abstendo-me do pouco de bom senso que ainda resistira as intempéries de uma mente conturbada. </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><i> “Você fede a gambá!”</i>- Respondeu ela, ignorando de imediato a confissão inapropriada.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Papai Apolinário não lhe ensinou boas maneiras, menina?”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Boas maneiras são para pessoas de boa índole, o que, é claro, não se aplica a ti.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Culpo a bebida, sempre. Uma fábrica de mal caráter, mas igualmente tentadora.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Pobre Justine...”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Sinceramente Antonieta... Não compreendo toda essa sua complacência. Justine padece em seu poço de ignorância, feliz, ainda que amarrada as rédeas de um amor não correspondido.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “E existe castigo pior que amar e não ser amada?”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Responda-me você.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Sabes bem que não posso. E pelo pouco que me recordo, foste tu o causador das intempéries e martírios da coitada.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Vocês mulheres... Sempre vitimas das consequências.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “E vocês homens, constantes causadores.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Absinto?”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Não dissestes que o absinto acabaste?”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Pensei... Mas tu disseste que aquela era a garrafa errada, então deduzo que essa seja a correta.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Isso é detergente.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Sério?”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Sério.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Ótimo...”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “O que tens, afinal, meu pobre amigo?”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Uma dor de cabeça dos infernos.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Vê-se logo que não se apaziguou com o vinho.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “O bom vinho intensifica os sabores e elimina as dores. O mal, suponho eu, exerce efeito contrário.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Por fim, nos vimos passeando pela orla da praia, próximo a praça de San Antônio, ambos fugindo das luzes festivas e do excesso de frivolidades desperdiçado nas festividades. Antonieta falava pouco, surrupiando as palavras do seu eu interior a medida em que o fazia. Não sei se foi devido a ambientação peculiar do momento, ou ao fardo de ter que preservar a sanidade em meio ao delírio matinal das festividades transviadas, mas acabei por me apegar a sensação nostálgica de desprendimento, e confessei, de pronto, o martírio que me atormentava.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “É que hoje acordei com um comichão no coração.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><i> “Esses são os piores”</i> - disse, por fim, após um longo minuto de silêncio – <i>“Coçam em lugares onde não há como coçar e arrebentam a alma.”</i></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Uma pontada de desalento se instalou em mim. Limitei-me a aceitar as palavras como se a mim viessem numa torrente de incrível consistência verbal.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> “Sinto muito meu amigo.”</span></i></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><i> “Não sinta.”</i> - Respondi de imediato. – <i>“Um último abraço?”</i></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Antonieta sorriu. Abriu os lábios, exibindo a perfeita simetria com a qual seus dentes se encaixavam, sobrepostos, amigáveis.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><i> “Sabes, bem como ninguém, que nossos abraços nunca são os últimos”</i> – E dizendo isso envolveu-me com seus braços finos, sua pele cálida e seu cheiro nauseante de perfume barato. Ficamos ali, durante um bom tempo, perfazendo as lembranças, materializando-as num abraço fraternal, pontuado-as em um ou dois cantos pelas lágrimas que começavam a me roçar o rosto.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Visitei seu túmulo precisamente as duas horas e vinte e três minutos do novo ano que se iniciava.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><i> “Sinto mesmo…"</i> – Repeti, para a escuridão que se intensificava, fitando o concreto duro de sua lápide com o coração pesado e alma em pranto – "<i>Sinto muito mesmo sua falta…”</i></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div align="CENTER" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 1.25cm;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">FIM</span></b></div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4553405352728329918.post-23569652809757965862011-01-20T05:33:00.000-08:002011-01-22T16:11:01.424-08:00Enquanto isso...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://www.willtirando.com.br/imagens/Num-mundo-perfeito.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://www.willtirando.com.br/imagens/Num-mundo-perfeito.png" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i>As feições deste <a href="http://twitter.com/habner_araujo">candidato</a> não me são estranhas...</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><br />
</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><br />
</i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><b>Via: <a href="http://www.willtirando.com.br/">Willtirando</a></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br />
</div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com3